Bolsonaro ficou chateado por ter sido ignorado por Moro em 2017

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Hoje convidado para ser ministro do futuro governo, o juiz Sergio Moro deixou Jair Bolsonaro magoado no ano passado.

A razão: o deputado federal, em março de 2017, ainda longe de ser confirmado candidato à Presidência pelo PSL, foi ignorado pelo magistrado depois de cumprimentá-lo no aeroporto de Brasília, como registrado em vídeo que rodou a internet.

A saia justa foi explicada por Moro em uma nota de sua assessoria de imprensa. Ligou para pedir desculpas e disse que não teve a intenção de ofender o parlamentar, mas também não queria que o episódio fosse “explorado poli­ticamente”.

“Não há dúvida que eu fiquei chateado. Esperava 30 segundos de conversa com ele”, confessaria Bolsonaro seis meses mais tarde, em entrevista à apresentadora Luciana Gimenez no Superpop, da RedeTV!.

Se há mais de um ano foi acusado de ter esnobado o então deputado, Moro agora é criticado por discutir com o presidente eleito o convite para assumir o Ministério da Justiça —a adesão ao governo é vista como um risco para o legado da Lava Jato. A defesa do ex-presidente Lula já estuda usar o caso para reforçar a tese de parcialidade contra o petista.

O juiz responsável pela operação em Curitiba se reunirá com o futuro presidente (e futuro chefe, quem sabe) nesta quinta-feira (1º), na casa dele, no Rio. Por ora, o ministeriável afirmou apenas que ficou honrado com a proposta e vai pensar sobre ela.

Bolsonaro, mesmo quando estava decepcionado com Moro, e aliados próximos seus, como o futuro ministro da Casa Civil Onyx  Lorenzoni (DEM-RS) e o senador Magno Malta (PR-ES), sempre enalteceram o trabalho do juiz no combate à corrupção.

“Eu, como deputado federal, se devesse alguma coisa, jamais se aproximaria [sic] de Sergio Moro”, disse o capitão reformado a Gimenez, diante de uma indagação dela sobre a “repercussão louca” do frio encontro no aeroporto: “O que que queriam? Que ele te desse um beijo na boca? Eu não entendi nada!”.

A cena foi esta: Moro atendia admiradores perto de uma lanchonete no aeroporto de Brasília quando foi avistado por Bolsonaro, que foi andando na direção dele e o abordou. Bateu continência e exclamou: “doutor Moro!”.

O juiz falou um “tudo bem?”, deu um leve sorriso e saiu, enquanto o deputado colocava a mão em seu ombro. Só restou ao político acompanhar com o olhar o magistrado partir.

Espalhada nas redes sociais, a gravação rendeu piadas e comentários do tipo: “meu Deus, que vergonha!”, “melhor ser rejeitado do que procurado pelo Moro”, “Moro, você foi indelicado, grosseiro e arrogante”, “nunca namore alguém que te trate como Moro tratou Bolsonaro”.

“Quero crer que ele não me reconheceu”, disse Bolsonaro à Folha dois dias depois do ocorrido. “Ele que tem que responder [sobre a reação], até porque eu sou uma pessoa que sempre tratei com dignidade todo mundo.”

Diante da controvérsia, o juiz telefonou para o parlamentar. Tiveram uma conversa de “oito, nove minutos” na qual Moro, conforme relatou o capitão a Gimenez, explicou que quis evitar a repetição do constrangimento causado por uma foto sua sorrindo ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em 2016.

“Foi muito explorado negativamente aquele sinal de certa intimidade com Aécio Neves”, afirmou o deputado. “Foi desfeito tudo isso [mal-entendido]. Foi muito educado, cortês”, contemporizou.

Sem entrar em tantos detalhes, o juiz divulgou na época um comunicado: “Contatei o sr. deputado a fim de esclarecer, em vi­sta da repercussão do episódio no aeropo­rto, que não era min­ha intenção ofendê-lo ou que o ocorrido fosse explorado poli­ticamente. Somente isso”.

Da FSP