Bolsonaro preocupa agência de classificação de risco Moody’s

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Desde 2013, o risco político no Brasil aumentou consideravelmente, ao lado de Turquia e Rússia, no que pode ter reflexo nos preços de ativos e na confiança dos investidores nesses países.

A avaliação é de Anne Van Praagh, diretora de estratégia de crédito e pesquisa da Moody’s, e de Atsi Sheth, diretora da agência de classificação de risco. Em almoço com jornalistas nesta quinta (15), ambas ressaltaram que o risco político em emergentes pode levar a uma correção nos preços de ativos locais e até alterar a nota de classificação.

Nos emergentes em geral, a polarização e a ascensão do populismo e de um líder que pode enfraquecer as instituições são riscos identificados pelos investidores.

Van Praagh considera que uma mudança na liderança ou uma consolidação do poder em torno de um líder poderiam levar a desenrolares políticos inesperados.

“O risco político pode afetar preços de ativos e sentimentos, com uma perda de confiança que levaria a uma correção do preço dos ativos ou a condições financeiras piores.”

No caso brasileiro, a corrupção e a insatisfação popular com os escândalos contribuíram para o aumento do risco político.

“O Brasil teve eleições em meio a um declínio econômico, se recuperando desse escândalo grande de corrupção”, diz a diretora da Moody’s. Nesse sentido, a eleição seria um impulso positivo para uma situação negativa, “mas esse impulso positivo deve ter vida curta”.

Sheth vai na mesma linha e diz que o discurso de combate à corrupção é uma forma de canalizar o risco político. “Mas a mudança no regime pode mudar a confiança na lei e nas instituições?”, questiona.

Para isso, seria essencial ajustar a situação fiscal do país, o que exige que o novo governo use o aval que recebeu nas urnas para aprovar reformas pouco populares, como a da Previdência, diz Sheth.

O desequilíbrio nas contas públicas é um dos principais fatores que mantêm a nota de crédito do país em Ba2, abaixo do nível de bom pagador de dívidas. A perspectiva é estável.

“A reforma é importante não só porque o sistema precisa ser reformado mas porque as diferenças entre receita e dívida continuarão crescendo, e o Brasil tem uma dívida elevada”, diz.

“No fim, se há endividamento elevado e não se combate, pode haver inflação alta e crescimento baixo.”

Para Van Praagh, esse é um dos principais desafios do governo eleito. “A reação do mercado ao resultado da eleição foi positiva, as pessoas ficaram muito animadas com Bolsonaro e sua perspectiva para reforma”, diz.

“Acho que implementar a reforma da Previdência ou medidas de ajuste mais fortes para ajustar a posição fiscal, que é o ponto fraco do Brasil, será politicamente um desafio.”

Ainda assim, a agência vê um crescimento mais forte da economia brasileira em 2019, de 2%. Neste ano, a média das previsões para a expansão é de 1,4%.

Da FSP