‘O rei está nu’, diz Dilma sobre Moro

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Petistas usaram as redes sociais para criticar a decisão do juiz Sergio Moro de aceitar o convite para assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública na gestão de Jair Bolsonaro (PSL). Lideranças da sigla afirmam que o magistrado atuou de forma parcial e pedem a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em sua conta no Twitter, a ex-presidente Dilma Rousseff escreveu inicialmente: “o juiz está nu”. A mensagem foi apagada e substituída por uma sequência de quatro tuítes sobre o histórico de decisões de Moro.

“Agora, o juiz Moro anuncia que largará a magistratura para ser ministro do governo que viabilizou a eleição com suas decisões. O rei está nu”, escreveu.

Dilma Rousseff escreve 'o juiz está nu' após Sergio Moro aceitar convite de Bolsonaro para ministério
Dilma Rousseff escreve ‘o juiz está nu’ após Sergio Moro aceitar convite de Bolsonaro para ministério – Reprodução/Twitter
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Ela citou a divulgação de trechos da delação do ex-ministro Palocci, atribuindo a ela o prejuízo a sua candidatura ao Senado por Minas Gerais e a de Fernando Haddad à Presidência, a “prisão sem provas” de Lula e o vazamento da conversa dela com o ex-presidente Lula “alimentando o processo de impeachment”.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, também mencionou as decisões do magistrado, se manifestando em três idiomas na mesma rede social.

“Moro será ministro de Bolsonaro depois de ser decisivo pra sua eleição, ao impedir Lula de concorrer. Denunciamos sua politização quando grampeou a presidenta da República e vazou para a imprensa; quando vazou a delação de Palocci antes das eleições. Ajudou a eleger, vai ajudar a governar”, afirmou.

Nas versões em inglês e espanhol, Gleisi inicia a mensagem chamando a decisão de “fraude do século”.

O ex-ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff (PT), José Eduardo Cardozo disse à Folha que está “estupefato, absolutamente espantado” com a ida do magistrado para um governo com o qual ele colaborou indiretamente, com suas decisões.

“Eu nunca vi nada parecido na história da magistratura. Curiosamente, aquele juiz que se dizia imparcial e isento aceita cargo num governo que ele ajudou indiretamente a eleger com suas decisões”, afirmou Cardozo.

O magistrado “decretou a prisão do candidato que àquela altura estava em primeiro lugar, o ex-presidente Lula”, lembrou o ex-titular da Justiça. “Depois, às vésperas do primeiro turno, numa decisão controversa, ele liberou a delação do ex-ministro Antonio Palocci, prejudicando um dos lados da disputa.”

Foram decisões judiciais, sustenta o advogado e professor, que repercutiram no processo eleitoral “de forma clara e irrebatível”.

Cardozo reitera a impressão de colegas de partido de que a ida para o governo Bolsonaro reforça a tese de parcialidade de Moro no caso de Lula.

“As pessoas no PT estão espantadas. Eu imaginava que, até por prudência, não haveria a aceitação do convite. Há um estado de perplexidade, de assombro.” Na opinião dele, as repercussões internacionais devem repetir a incredulidade com a forma “como as instituições brasileiras têm se comportado”.

Um agravante, afirma Cardozo, é que conversas sobre a eventual participação do juiz no governo tenham começado ainda durante a campanha, como revelou o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão.

“É alarmante que o diálogo com um juiz que tomou as decisões que tomou tenha se iniciado antes mesmo da decisão do povo brasileiro.”

O ministro das Relações exteriores no Governo Lula e atuante na campanha internacional pela libertação do ex-presidente, Celso Amorim chamou a decisão de espantosa.

“Apenas confirma todas as suspeitas de que o juiz Sergio Moro tenha partido e outros objetivos”. Segundo Amorim, seu comportamento é duvidoso: “é como o juiz do Flamengo e Vasco virar presidente de um dos clubes”, diz Amorim.

“A operação Mãos Limpas na Itália levou Berlusconi a governar a Itália. A #LavaJato levou Bolsonaro a ser eleito presidente. Mas os juízes e procuradores italianos tiveram pudor e não foram para o ministério de Berlusconi”, afirmou.

O deputado Paulo Teixeira pediu para que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) anulem a condenação do ex-ministro Luiz Inácio Lula da Silva e concedam a liberdade ao petista.

“As razões da prisão sem provas foram escancaradas: Moro aceita convite para exercer o cargo de ministro da justiça de Bolsonaro!”, disse.

O senador Lindbergh Farias classificou a decisão do juiz como um escândalo e disse que o gesto mostra que o magistrado nunca agiu de forma imparcial.

“Poucas coisas podem ser mais descaradas do que isto. Sempre alertamos que Moro atuava como militante, e não como magistrado. Depois de interferir no processo eleitoral, vira ministro do candidato beneficiado por ele. Em qualquer lugar do planeta isso seria um escândalo”, disse.

O ex-presidente da OAB do Rio, o deputado federal Wadih Damous afirma que o aceite de Moro fortalece campanha pela suspeição de Moro no caso de Lula.

No Twitter, ele disse que “Moro será o pilar do estado policial-fascista brasileiro”. E acrescentou: “Mas também carregará para sempre a pecha de juiz parcial e sem isenção. Ele tem que se afastar ou ser afastado imediatamente dos processos da Lava Jato, em particular os que envolvem o ex-presidente Lula.”

O advogado Vítor Marques, atual coordenador do setorial jurídico do PT, disse que Moro não houve surpresa no anúncio de Moro, pois sua atuação sempre foi política.

“Sergio Moro aceita ser ministro e resolve deixar de se travestir de juiz. Sem novidades, sua atuação na magistratura sempre foi política”, disse.

O advogado Marco Aurélio Carvalho, ex-coordenador do setorial jurídico do PT, classificou o aceite como “uma coisa espantosa” e disse que ela materializa a parcialidade do magistrado. Ele cobrou uma manifestação firme do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e de organizações internacionais sobre o caso.

Segundo o advogado, Moro foi determinante para a eleição de Bolsonaro, inviabilizando a candidatura do líder das pesquisas e manejando informações que estavam sob sua responsabilidade e igualmente decisivas para o resultado, como, por exemplo, a divulgação de trechos da delação do ex-ministro Antonio Palocci.

Para Marco Aurélio, é um momento muito triste para o Judiciário. “As lideranças do Judiciários, os representantes de entidades de classe, saíram todas em defesa do Moro. E devem estar se sentindo traídas”, disse o advogado