As fake news de Bolsonaro: psicologia explica como ele conseguiu enganar tanta gente

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Se está na internet, é verdade? Em 2018, essa máxima foi atualizada para: se recebi no WhatsApp, deve ser verdade. O ano da eleição presidencial no Brasil deu novos contornos à desinformação, que virou uma arma eleitoral e teve o nosso mensageiro mais querido como grande aliado.

Foram mais de 4,5 milhões de notícias falsas espalhadas apenas entre julho e setembro. Desse total, 2,2 milhões eram sobre política, outras tantas eram sobre temas de saúde, como vacinas, e promessas de dinheiro fácil, segundo relatório da empresa de cibersegurança PSafe.

Estudos provaram que, uma vez que o boato é lançado na rede, é muito difícil conter o seu impacto. Quem acreditou vai continuar acreditando -na maioria das vezes, não há checagem profissional que salve.

E há uma explicação psicológica para isso.

As notícias falsas geram diferentes e intensos sentimentos em quem as recebe –os mais comuns são raiva, surpresa, indignação, repulsa. A estratégica de propagação de boatos é aproveitar dessas nossas reações para nos influenciar.

Em vez de disseminar feitos e propostas, as campanhas políticas passaram a investir para distribuição de mensagens difamatórias contra os adversários, exatamente por que numa eleição qualquer informação é facilmente desconstruída, mas as fofocas pegam.

“As notícias falsas são capazes de confirmar nossas fantasias mais básicas, como as de perseguição, conspiração, megalomania, ciúmes. Toda vez que isso é feito temos um sentimento reassegurador de que, em meio ao caos, incerteza e complexidade do mundo, no fundo ‘eu sabia”, diz Christian Ingo Lenz Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP.

O complexo de vira-lata do brasileiro é real e reflete-se na política, afirma Andréa Jotta, psicóloga do laboratório de estudos de psicologia e tecnologias da informação e comunicação da PUC-SP.

Culturalmente, o brasileiro é aquele que não valoriza o próprio o país. Tudo de fora é melhor. A expressão “complexo de vira-lata” foi usada por Nelson Rodrigues e define a inferioridade da nação perante ao resto do mundo.

Acredita-se que ela tenha surgido após da derrota desastrosa do Brasil na final da Copa de 1950. Aliado a isso, há uma necessidade de heróis salvadores. Sabe aquele sentimento forte de que precisamos de alguém que vai conseguir resolver todos os problemas, que vai acabar com a corrupção e vai melhorar a saúde? Só um herói (ou alguém com essa representatividade) teria a capacidade e os poderes mágicos para resolver tamanha bagunça. Isso é uma construção social.

Por isso, um candidato que se coloque na posição de liderança, de autoridade, consegue convencer, explica Jotta. Nessa linha, muitas notícias falsas são criadas propositalmente para se aproveitar dessa necessidade.

Do UOL