Bolsonaro, não basta ser marqueteiro

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Para quem não tem marqueteiro, Jair Bolsonaro vem se saindo melhor do que a encomenda. Ao menos é o que as pesquisas apontam: 75% dos entrevistados acham que ele está no caminho certo e 65% acreditam que a situação econômica vai melhorar. Antes de representar garantia de popularidade futura, elas retratam, acima de tudo, a carência do brasileiro neste momento: o país sofreu tanto que a torcida para dar certo é maior do que a desconfiança com as demonstrações de despreparo e improviso.

Só que a foto de Jair Bolsonaro lavando roupa neste fim de semana, distribuída por sua assessoria, e os tuítes reclamando da exclusão de páginas de direita pelo Facebook ainda podem parecer pitorescos — e até simpáticos, para alguns — vindos de alguém que ainda não assumiu o cargo e se prepara para as festas de Natal com a família. Mas não vão ser suficientes.

Em oito dias, esse estado de encantamento começará se dissipar e, se Bolsonaro continuar insistindo na agenda absolutamente secundária da reforma ideológica e das irrelevâncias conservadoras, corre o risco de queimar mais rapidamente do que pensa suas gorduras de popularidade.

É preciso governar, e isso implica, por exemplo, em decidir o que enviar ao Congresso como prioridade, fechar uma reforma da Previdência, começar a negociar com os parlamentares, encarar as disputas pelas presidências da Câmara e do Senado e, last but not least, encontrar uma boa explicação para o Queiroz no Coafgate — ou, ao menos, encontrar o Queiroz.

Se Bolsonaro quiser continuar no papel de animador da torcida — no qual, diga-se de passagem, ele vem se mostrando muito bom —, vai ter que encontrar alguém para tomar conta do lojinha e dar sinais concretos de governo. Os dois principais candidatos, obviamente, são Paulo Guedes e Sérgio Moro, cada um em seu território. É bom lembrar, porém, que são dois neófitos em Brasília, aquela cidade que costuma devorar aqueles que não a decifram.

Do Os Divergentes