Casa de Bolsonaro começa a cair

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Falta quase um mês para Jair Bolsonaro assumir a Presidência da República e só por conta de sua língua descontrolada e da vida obscura dele e de sua família o novo governo começará envolto em crises administrativas e suspeitas de corrupção. Que a casa de Bolsonaro irá cair, sempre foi previsível. Mas não se imaginava que começaria a cair tão cedo…

Na quinta-feira 6 de dezembro, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma reportagem bombástica, incrivelmente escondida nas páginas internas. Isso chega a ser incrível porque a lógica nos diz que um jornal deveria querer dar destaque a furos de reportagem, mas não foi o que aconteceu. Por alguma razão, essa matéria não apareceu na primeira página.

A matéria deu conta de que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), detectou movimentação “atípica” (fora do comum) na conta de um segurança, motorista e assessor do filho mais velho de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, então deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

A partir dali, começaram a surgir evidências de que o caso é mais suspeito do que parece e envolve até o presidente da República eleito no mês retrasado.

Primeiro, surge a informação de que o 1,2 milhão de reais que transitaram pela conta do segurança-motorista-assessor no período de um ano teve destinos mais do que suspeitos, tendo ido parar até na conta de Michelle Bolsonaro, ex-assessora de Jair Bolsonaro e atualmente sua esposa.

Bolsonaro deu uma explicação pouquíssimo convincente, disse que o cheque depositado na conta de sua esposa pelo assessor enrolado seria pagamento de dívida dele para consigo e que foi depositado na conta de sua mulher porque ele não teria tempo de ir ao banco depositar.

Pergunta: por que Bolsonaro não pediu para o devedor fazer o depósito na sua conta?

Em seguida, descobre-se que o Coaf também detectou movimentação suspeita na conta da filha do ex-motorista de Flávio Bolsonaro. No relatório do órgão, junto ao nome dela está o valor total de movimentação de R$ 84 mil da conta de Fabrício Queiroz para a sua.

Mais um dia se passa e a Folha de São Paulo divulga que o ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) fez 176 saques de dinheiro, em espécie, de sua conta em 2016. A movimentação dá uma média de uma retirada a cada dois dias.

Cerca de um quarto do valor suspeito (R$ 324,8 mil) foi movimentado por meio de saques em dinheiro. Foram retiradas que variavam de R$ 100 a R$ 14.000.

No mesmo dia, o Jornal Nacional, que havia evitado comentar o assunto na quinta-feira, quando ocorreu a denúncia discreta do Estadão, entrou no tema e, assim, fortaleceu as investigações, das quais, agora, Bolsonaro não tem mais como fugir.

Imprensa (sobretudo a internacional) já registra o inferno astral de Bolsonaro antes mesmo da posse.

Nesse contexto, começam a pipocar informações adicionais sobre o caso, como a estreita relação entre o assessor enrolado do filho de Bolsonaro e o próprio presidente eleito. Fabrício Queiroz tinha total intimidade com o clã presidencial. A tal ponto, que saía para pescar com o próprio Jair Bolsonaro

Para completar, deputados estaduais do Rio de Janeiro estudam pedir investigação contra o filho do presidente eleito.

A pressão obrigou Bolsonaro a sair da moita e se explicar. E, como sempre, tenta empurrar sua responsabilidade para os outros.

Para Bolsonaro, advogados dos parlamentares fluminenses presos vazaram informações do Coaf sobre a movimentação de Queiroz. “Pente fino do Coaf foi feito no início do ano. Foram advogados que vazaram isso agora para tentar desviar o foco da atenção, deles para o meu filho”, afirmou.

Muito bem. Mas será que Bolsonaro pode explicar como os deputados estaduais fluminenses presos saberiam de um mero empréstimo entre o pai do colega Flávio Bolsonaro e seu assessor? Ou será que o toma-lá-dá-cá no gabinete do filho de Bolsonaro era tão escancarado que todo mundo na Alerj sabia?

Seja como for, Bolsonaro já começará o novo governo cheio de crises e com a intenção de implantar uma agenda extremamente impopular, como a continuação da retirada de direitos e a tão odiada (pela maioria dos brasileiros) reforma da Previdência. Serão quatro anos de crises, se Bolsonaro chegar ao fim do mandato.