Cúpula conservadora se reuniu para impedir a volta da esquerda

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Impedir a volta da esquerda ao poder e organizar a direita no continente latino-americano. Esse foi o tom dos discursos e painéis realizados no último sábado, 8, durante a 1ª Cúpula Conservadora das Américas. Idealizada para ser uma reação ao Foro de São Paulo, organização que reúne entidades e partidos de esquerda desde os anos 1980, a cúpula reuniu expoentes do futuro governo Jair Bolsonaro, ideólogos conservadores e integrantes de movimentos de combate à corrupção.

Durante oito horas, convidados como o filósofo Olavo de Carvalho, os irmãos Abraham e Arthur Weintraub, o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança e o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), entre outros, se revezaram nos discursos e explanações em que o mote era traçar estratégias de enfrentamento do discurso de esquerda.

O mais assediado durante o evento, Eduardo Bolsonaro mal conseguia se locomover de um lugar a outro com dezenas de pedidos de selfies, favores e apresentações. Ao longo da tarde, no entanto, o assédio arrefeceu e o parlamentar conseguiu acompanhar os discursos e debates que aconteceram no auditório de um resort em Foz do Iguaçu. Terminou a noite pedindo a noiva em casamento no fim do evento diante do público presente.

Apesar da organização do evento ter divulgado previamente que mais de 2 mil pessoas haviam feito as inscrições para participar, apenas cerca de 600 compareceram. Para a imprensa, Eduardo minimizou a cifra e disse que a cidade do extremo oeste do Paraná é de difícil acesso para moradores de outras regiões do País. Mas explicou que o local foi escolhido pelo simbolismo. Está na tríplice fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai.

A cúpula reuniu basicamente pessoas ligadas a movimentos de direita que se articulam há alguns anos e pessoas que decidiram participar por conta própria. É o caso do corretor de imóveis de Cascavel (PR), Márcio Teles e da empresária e suplente do deputado federal eleito Nelson Barbudo (PSL-MT), Gina Defanti, contaram que decidiram arcar com os custos das viagens porque querem resgatar os valores conservadores. “Hoje vemos uma gama de pessoas perdidas, achando que ser conservador é ser errado”, disse Teles.

Paula Milani, integrante do movimento Acampamento Lava Jato, de Curitiba (PR), disse ver um levante da direita no Brasil e acredita que agora é hora de organizar esse movimento. “A esquerda chegou muito bem organizada, muito bem estruturada e dominou realmente. Agora, a direita está se organizando, tanto que já elegemos um presidente”, disse. Paula levou com ela mais seis pessoas para o evento, todos uniformizados com a camiseta do movimento.

A tônica do evento foi sintetizada por Jair Bolsonaro neste domingo. Em sua conta no Twitter, o presidente eleito afirmou que “por muito tempo o pensamento conservador e os valores familiares que predominam em nossa sociedade foram marginalizados graças a um projeto de poder revolucionário tocado por lideranças de esquerda em todo o continente”. E agora, de acordo com ele, é o momento de propor novos caminhos.

O evento foi marcado problemas técnicos com as videoconferências. O guru dos participantes, o escritor Olavo de Carvalho, que mora nos Estados Unidos, foi o que mais sofreu. Com um áudio cortado, era difícil entender tudo o que ele dizia e gerou revolta de algumas pessoas da plateia, que chegaram a pedir aos gritos uma melhor qualidade na transmissão.

Quem procurou por uma rede de wi-fi dentro do auditório se deparou com o tamanho do ódio ao PT, com “petista não é gente” e “#LulaTaPresoBabaca”.

Do lado de fora do auditório, uma livraria improvisada vendia dezenas de títulos ligados ao pensamento conservador. Nenhum dos livros disponíveis ali, no entanto, eram de Olavo de Carvalho. De acordo com os vendedores, a livraria ainda não tinha fechado um acordo de venda com a editora das obras de Olavo. O livro mais vendido do dia, de acordo com eles, foi “Bandidolatria e Democídio – ensaios sobre garantismo penal e a criminalidade no Brasil”, de Leonardo Giardin de Souza e Diego Pessi.

Nem mesmo o evento foi encerrado, pessoas contratadas para organizá-lo começaram a desmontar a estrutura. Estavam com pressa porque, com quase duas horas de atraso em relação ao horário previamente estabelecido para o fim, a fome apertava. Acostumados a trabalhar em eventos com suntuosos coffee breaks, o pessoal do “staff” estranhou e reclamou. Nenhum lanchinho foi servido nas quase 8 horas de evento. Apenas um pequeno stand vendia água, sucos e pães de queijo.

Do Estadão