Explicações de Flávio Bolsonaro sobre assessores deixam dúvidas

Todos os posts, Últimas notícias

O Jornal Nacional descobriu que um ex-funcionário da Assembleia do Rio passou mais de 400 dias fora do Brasil em três anos. Neste período, Wellington Sérvulo também trabalhou no gabinete do deputado e senador eleito Flávio Bolsonaro. O filho do presidente eleito deu nesta quinta-feira (13) a terceira declaração sobre o caso.

As explicações de Flávio Bolsonaro geraram mais dúvidas.

Na quarta-feira (12), o Jornal Nacional mostrou que um dos assessores do deputado e senador eleito passou metade do tempo em que foi contratado do gabinete dele em viagens. Wellington Sérvulo Romano da Silva ficou fora do país 248 dias. Ele aparece no relatório do Coaf sobre movimentações financeiras suspeitas de servidores da Alerj.

Pelos registros da Assembleia Legislativa, Wellington, que é tenente-coronel da Polícia Militar, trabalhou para Flávio um ano e quatro meses. Foi nomeado no dia 15 de abril de 2015 e dispensado no dia 1º de setembro de 2016.

Na nota divulgada na quarta-feira, Flávio Bolsonaro afirma outra coisa. Diz que Wellington trabalhou normalmente no gabinete até ser exonerado a pedido em 23 de fevereiro de 2018.

A assessoria da Alerj informou que, depois de 2016, Wellington não teve nenhum cargo na Assembleia nem no gabinete de Flávio e não recebeu salários pela casa.

A Polícia Militar explicou que entre 2016 e 2018 Wellington estava cedido para a Superintendência Militar da Alerj, que cuida da segurança da Assembleia.

Numa rede social, a mulher de Wellington diz que a cidade onde mora atualmente é Aveiro, em Portugal. E foi o que o JN ouviu, na quarta, do porteiro onde o tenente-coronel tem um apartamento.

Na nota divulgada na quarta, Flávio Bolsonaro afirma que não procede a informação de que Wellington Sérvulo morava em Portugal enquanto estava lotado no gabinete na Alerj. O senador eleito diz que a família dele, sim, se mudou para lá, e acrescenta que Wellington os visitava esporadicamente.

A reportagem mostrou que, enquanto trabalhou no gabinete de Flávio, Wellington Sérvulo Romano da Silva, fez oito viagens para Portugal, sempre pela mesma companhia aérea, a TAP.

No dia 24 de abril de 2015, por exemplo, nove dias depois de ter sido nomeado por Flávio, Wellington viajou para Portugal, onde ficou 44 dias. Ainda em 2015 viajou outras três vezes pra Portugal. Naquele ano foram 119 dias fora do Brasil. Até setembro de 2016 fez mais quatro viagens.

A Alerj informou que, durante todo o período em que ele esteve na casa, nunca tirou licença. Nesse período recebeu o salário e gratificações da Alerj: total de R$ 5.400 por mês, mais o salário como tenente-coronel, hoje, R$ 25 mil.

Ainda na quarta-feira, numa rede social, Flávio Bolsonaro fez um esclarecimento. Disse que o servidor Wellington Sérvulo foi lotado na Coordenadoria Militar na Alerj, em 2015, já com direito a 160 dias de férias pela Polícia Militar e adquiriu direito a mais 60 dias de férias nos anos de 2016 e 2017. Flávio afirma que, no entendimento da assessoria dele, pelo fato de Wellington estar vinculado a órgão da Polícia Militar, tratava-se de um direito adquirido do servidor.

A Polícia Militar confirmou que Wellington tinha férias acumuladas, mas não informou quanto e que essas férias deveriam ser requisitas à Alerj enquanto ele estava cedido.

Com os 60 dias de férias que o deputado afirma que ele acumulou na Alerj, o assessor ficou com 220 dias de férias. Com a informação de que ele só saiu em fevereiro de 2018 da Alerj, o Jornal Nacional descobriu quantas viagens fez e quantos dias Wellington Sérvulo ficou fora do país durante todo o tempo em que ficou na Assembleia.

Foram 16 viagens para Portugal, total de 432 dias fora do Brasil em três anos, sete meses a mais do que consta que ele tinha direito.

Wellington ainda está fora do Brasil. A última viagem foi em setembro.

Nesta quinta-feira, Flávio Bolsonaro falou pela terceira vez sobre o caso. Confirmou as informações divulgadas na reportagem, mas mudou alguns pontos em relação às respostas que tinha dado no dia anterior.

Flávio Bolsonaro diz que Wellington deixou o gabinete dele na data informada pela Alerj, setembro de 2016, e não fevereiro de 2018 como afirmou antes.

O senador eleito também reafirma que não sabia que Welington morasse em Portugal, até porque, ele diz, os militares têm como domicílio a sede da organização à qual estão subordinados. Pelo mesmo motivo, tais afastamentos devem ter sido objeto de solicitação ou comunicação à Polícia Militar dom Rio de Janeiro.

Wellington é um dos nove assessores que fizeram depósitos na conta de outro assessor de Flávio Bolsonaro. O Coaf que apontou uma movimentação suspeita na conta de Fabrício de Queiroz de R$ 1,2 milhão em um ano.

Ao todo, 75 funcionários de 21 gabinetes de deputados são citados pelo Coaf. Eles movimentaram R$ 207 milhões.

Nesta quinta, Flávio Bolsonaro disse numa rede social que não fez nada de errado que é o maior interessado em que tudo se esclareça.

O JN não conseguiu localizar os ex-assessores Fabrício de Queiroz e Wellington Sérvulo.

Do G1