Grupo Abril é vendido e família Civita dá calote de R$1,6 bilhão

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Ao fechar a venda de 100% das ações do Grupo Abril a Fabio Carvalho, negócio anunciado no início da tarde, a família Civita não só sai do comando daquele que já foi um dos maiores grupos editoriais do país, como deixa uma dívida de nada menos que R$ 1,6 bilhão com funcionários, bancos e fornecedores. Mesmo sob o novo controlador, os credores da editora devem reaver uma fração daquilo que lhes é devido. Pelos termos do acordo assinado, os irmãos Giancarlo e Victor Civita, netos do fundador do grupo, ficam livres de quaisquer ônus e Fabio Carvalho assume a responsabilidade por todo o endividamento da empresa. Essa era uma condição da família para aceitar ceder o controle da Abril, que está em recuperação judicial desde agosto.

Segundo pessoas familiarizadas com termos negociados, a família receberá um pagamento simbólico pela transferência do controle, já que Carvalho assume a dívida bilionária.

Mas os Civita estão longe de sair de mãos vazias. Em fevereiro de 2015, quase dois anos após a morte do pai Roberto Civita, Giancarlo acertou a venda do controle da Abril Educação, hoje rebatizada como Somos Educação, para o fundo Tarpon por R$ 1,3 bilhão. Em dezembro daquele ano, pressionada pelos bancos credores durante negociação para alongar o perfil da dívida da Abril, a família aportou R$ 450 milhões na empresa. A maior parte do dinheiro da venda do segmento de educação, entretanto, ficou preservada.

Fabio Carvalho, advogado que se especializou em assumir empresas em dificuldade, conta com o respaldo financeiro do banco BTG Pactual, que já financiou outras empreitadas suas no passado. Enquanto o empresário assumirá as ações, o banco, por meio de sua empresa de recuperação de crédito Enforce, negocia com os três bancos credores da empresa –Bradesco, Itaú e Santander– para comprar com grande desconto os quase R$ 1 bilhão em dívidas bancárias. Essa parte do negócio, entretanto, ainda não foi fechado. Os bancos também precisam aprovar a venda das ações, já que títulos importantes da editora, como “Veja” e “Exame” foram dados em garantia pelas dívidas bancárias, juntamente com o edifício na Marginal Tietê, em São Paulo.

Se conseguir comprar as dívidas, o BTG assume o lugar dos bancos na recuperação judicial da empresa e passa a deter a maioria dos votos para aprovar um plano de recuperação judicial em comum acordo com Carvalho.

A proposta de Carvalho desbancou uma outra oferta concorrente, coordenada pela Guilder Capital, do executivo João Consiglio, e que contava com o suporte financeiro da BRZ Investimentos, gestora que trabalhava na montagem de um fundo para fazer investimentos de impacto, além de empresários que preferem se manter anônimos, como o fundador da Natura Guilherme Leal.

É certo que Carvalho e BTG querem aplicar um grande desconto às dívidas. No plano de recuperação judicial apresentado, a Abril propôs um deságio de 92% e pagamento dos 8% restantes em 18 anos. ainda não se sabe se tal plano será mantido ou substituído por outro, com condições diferentes.

Uma pessoa próxima ao BTG nega que o banco tenha interesse em assumir o negócio ou responder pela parte editorial das publicações da Abril. Do ponto de vista comercial, o banco espera poder usar o cadastro de leitores das revistas da editora para gerar novos clientes para sua plataforma BTG Pactual Digital, um supermercado financeiro. Seria algo similar ao modelo que a XP Investimentos tem com o site de notícias financeiras Infomoney.

Do Valor Econômico