Nos EUA, fonte de informação da direita se descolou da grande imprensa

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Foi publicado há pouco nos Estados Unidos, pela editora da Universidade de Oxford, o novo livro de Yochai Benkler e equipe chamado “Network Propaganda: Manipulation, Disinformation, and Radicalization in American Politics” (propaganda em rede: manipulação, desinformação e radicalização na política americana).

A obra traz uma profícua investigação sobre como as novas mídias colaboraram para sedimentar a polarização política nos EUA.

Por meio de uma análise de redes, na qual verifica o padrão de interação de milhões de usuários com páginas e contas de veículos jornalísticos, a equipe de Benkler descobre um curioso padrão.

Enquanto usuários de esquerda interagem simultaneamente com veículos hiperpartidários, como a página “Occupy Democrats” e com veículos tradicionais da grande imprensa, como o jornal “The New York Times”, os de direita só interagem com veículos engajados, como o site “Breitbart News”, e entre a grande imprensa apenas com o canal de TV Fox News.

A polarização consiste na formação de dois circuitos de informação, um frequentado por usuários de esquerda que votam nos democratas e outro pelos de direita que votam nos republicanos.

Os dois circuitos, embora separados, não são, no entanto, equivalentes em seu afastamento do establishment. Por isso, para os autores, a polarização é assimétrica.

O circuito de esquerda é composto por sites hiperpartidários que se dedicam praticamente apenas a apresentar e interpretar fatos que reforçam a identidade de esquerda, mas inclui sites de grandes veículos que reportam fatos que questionam as convicções dos partidários.

Na direita, entretanto, o circuito é praticamente povoado só por sites hiperpartidários e o principal representante da imprensa tradicional, o canal Fox News, comporta-se em muitos sentidos como um site hiperpartidário.

Assim, enquanto na esquerda as notícias falsas, os boatos e os erros de apuração de algum veículo são frequentemente corrigidos por outros atores do circuito, em particular pela grande imprensa, o mesmo não acontece na direita, que fica presa num looping de propaganda e reforço de narrativa que corrobora a identidade política sem que seja desafiada pela verdade fatual.

A polarização não seria então o afastamento simultâneo dos dois polos de um centro convencional, mas o brusco descolamento da direita, constituindo um circuito isolado e radical.

A análise não parece se aplicar inteiramente ao Brasil (onde os dois circuitos se descolaram da grande imprensa), mas joga luz sobre o papel fundamental da apuração jornalística em tempos de polarização.

Da FSP