Novo secretário da Secom ataca imprensa e políticos em rede social

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Anunciado para a chefia da Secom (Secretaria de Comunicação) no governo Jair Bolsonaro, o publicitário Floriano Amorim mantém um perfil no Twitter que em boa medida espelha as opiniões do futuro presidente.

Ele dispara ataques à imprensa, à esquerda e ao PT, frequentemente classifica informações que lhe desagradam como fake news e já criticou políticos como Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso.

Amorim terá como atribuição cuidar dos contratos de publicidade oficial do governo. Sua indicação para a Secom não foi oficializada por Bolsonaro, mas nesta semana o futuro ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, afirmou que ele é o escolhido.

Há alguns dias, Amorim afirmou na rede social que, ao cortar verbas de propaganda oficial, Bolsonaro estará fazendo girar a economia.

“Com essa ação, aqueles que sempre se deram bem nas contas de governo irão ter que mostrar serviço no mercado privado. Em consequência, irão aquecer o mercado. 17!”, disse, citando o número do PSL, sigla de Bolsonaro.

O futuro secretário hoje é assessor do gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Ele auxilia o parlamentar na atualização das redes sociais e tem o hábito de replicar postagens da família.

No Twitter, Amorim costuma tratar a Folha como “Foice”, símbolo do comunismo.

Ao republicar post sobre uma pesquisa do instituto Datafolha, ele comentou: “Mais ridículo ainda é perceber que ainda tem gente que dá crédito a uma pesquisa encomendada pela Globo e Folha de SP! Isso já está ficando bizarro e feio pra essa esquerdalha”.

O UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, foi mencionado em outra ocasião. Amorim endossou post do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) sobre um colunista do portal e acrescentou: “Essa escória com alcunha de jornalista é um peso morto pro país”.

O futuro secretário se voltou também contra a TV Globo. Festejou uma notícia sobre o encerramento do programa Amor & Sexo: “Sem trocadilhos, mas acabou a putaria!”.

Em novembro, já com Bolsonaro vitorioso, o publicitário de novo usou termo chulo ao destacar uma reflexão: “Recado do brasileiro raiz para alguns ‘brasileiros’: parem de torcer contra o Brasil, porra!”.

Diante do convite a Sergio Moro para compor o novo governo, também lançou mão de linguajar popular: “Tenho minhas dúvidas sobre a capacidade cerebral da esquerda. Vejamos: estão querendo tirar a alegria de Moro […]. Se conseguirem ele ficará puto e vai descontar em quem? No Lula, cambada de jumento!”.

Dias antes, sugeriu punição ao homem acusado de matar a pauladas uma idosa de 106 anos no Maranhão: “Um animal desses só tirando toda a pele e soltá-lo no meio do sertão”, escreveu o publicitário.

Ele é também favorável ao armamento, como expressou ao comentar a notícia sobre um protesto em São Paulo pela descriminalização do aborto. “Legalizar matar uma vida inocente pode, mas legalizar o porte de arma para nos proteger de quem pode tirar a vida não pode?!”, questionou.

A lista de políticos criticados por ele é ecumênica. Sobre FHC, disse que declarações “desse fanfarrão” pouco têm “interessado à população que deseja o bem do país”.

Repreendeu Temer (MDB) por ver em um tuíte sobre o programa Mais Médicos tentativa do atual ocupante do Planalto de ofuscar o próximo. “Coisa feia, Temer. Tentando tirar o mérito do Bolsonaro?”, indagou Amorim.

Fernando Haddad (PT) foi comparado ao cachorro do ex-presidente americano George Bush, que ficou ao lado do caixão do dono no funeral. Numa notícia sobre o caso, o publicitário digitou: “Nem Haddad agiu assim com seu mentor”, em alusão a Lula.

O STF (Supremo Tribunal Federal) é outro alvo. Já fez críticas ao ministro Gilmar Mendes e ao ex-presidente da corte Joaquim Barbosa.

“O senhor deveria estar preocupado é com o caos moral em que seus amigos de toga transformaram a corte suprema do país”, postou em agosto, em provocação a Barbosa, que havia dito ver risco a direitos na candidatura de Bolsonaro.

Floriano Barbosa de Amorim Neto é funcionário do gabinete de Eduardo Bolsonaro há pelo menos três anos. Portfólio divulgado em seu site reproduz alguns filmes publicitários nos quais trabalhou.

Na página, ele também informa ter pós-graduação em gestão estratégica de marketing pela Fundação Getulio Vargas e possuir “ampla vivência em planejamento de comunicação e estratégias de marketing para clientes do setor privado e governamental”.

Amorim foi informado por email e mensagem sobre o teor desta reportagem ao longo dos últimos dois dias, mas não respondeu sobre os posts.

“Dentro do possível estou tentando responder diversas demandas. Na oportunidade certa vamos nos falar”, disse.

Na noite desta quarta (12), o perfil no Twitter foi alterado e passou a ser fechado. Com os tuítes protegidos, novos seguidores terão que ser autorizados pelo dono.

O nome da página também mudou para “Brasil” e a foto de Amorim foi substituída por uma imagem da bandeira nacional.

Da FSP