A família que fez capital político criticando os Direitos Humanos agora pede respeito aos seus direitos

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As linhas de defesa adotadas pelo bolsonarismo para defender Flávio Bolsonaro vêm variando entre a necessidade de apurar antes de punir e as tentativas de desvinculá-lo do pai e do Palácio do Planalto. Em entrevista à agência Bloomberg, Jair falou que se “por acaso ele errou e isso for provado, lamento como pai, mas ele terá de pagar o preço por esses atos que não podemos aceitar”. O general Mourão, seu vice, pulou nesse bonde e afirmou que o único problema de Flávio é o sobrenome.

Na medida em que a situação de Flávio se complica vão crescendo os sinais de que, para safar o patriarca, há a real possibilidade de seu herdeiro mais velho ser abandonado no caminho. Não satisfeito, o “garoto”, como o chama seu pai apesar de beirar aos 40, resolveu pisar no acelerador da crise ao conseguir do ministro Fux uma decisão suspendendo as apurações acerca da nebulosa relação entre ele e o ex-assessor Queiroz.

Flávio alegou ao STF que o foro privilegiado não permite que, enquanto senador, seja investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Pediu também a anulação das provas colhidas até então. Fora dos autos, calou-se, apesar de sua conhecida tagarelice nas redes sociais. As exceções foram as entrevistas dadas às chapas-brancas Record, SBT e RedeTV!, linhas auxiliares do bolsonarismo desde que o capitão passou a despontar como favorito para vencer as eleições. Fora isso, Flávio parou até de promover um dos principais hobbies da família: ir para cima dos direitos humanos.

A narrativa é muito clara: direitos humanos são sinônimo de direitos de bandidos. Não tem conversa. Mas o que Flávio, Queiroz e companhia aparentam não saber é que, para se defenderem das cabeludas suspeitas que lhe caem nos ombros, vêm se valendo dos mesmos direitos humanos que costumam esculhambar.

O primeiro deles é a presunção de inocência. Aquela que o STF, sob a regência do bruxo do neoconstitucionalismo Luís Roberto Barroso, sepultou no final de 2016 para saciar a fome da Lava Jato por pedaços da Constituição. É provável que o senador, junto com seu pai, seus irmãos e a horda ensandecida que os segue ainda não saibam, mas o direito de não ser julgado e condenado prematuramente, antes de qualquer direito à defesa, se encontra previsto no artigo 11 da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948: toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

Em 2015, a juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza foi agredida por policiais militares presos no Batalhão Especial Prisional de Benfica, na zona norte do Rio, durante uma fiscalização na unidade prisional.  Os detentos impediram que a magistrada fizesse a revista em uma das galerias, agredindo-a ao ponto de lhe rasgarem a camisa. Solidário aos agressores, Flávio sacou do bolso a presunção de inocência para defendê-los, provando que se trata de uma velha conhecida sua. Talvez só não tenha ideia de que ela faz parte dos direitos humanos que ele e sua família tanto detratam.

Da Carta Capital