André Esteves, preso por obstrução de justiça, é convidado VIP na posse de Guedes

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Dono do banco BTG Pactual, André Esteves entrou no auditório do Instituto Serzedello Correa, dentro do Tribunal de Contas da União, como se nunca tivesse deixado de circular em Brasília. Ele costumava frequentar seminários, reuniões com autoridades ou eventos institucionais, mas fazia três anos que não dava as caras em eventos públicos na capital federal – desde que foi preso pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, em novembro de 2015, suspeito de tentar obstruir a Operação Lava Jato, acusação da qual foi absolvido no ano passado. Nesta quarta-feira, Esteves retornou ao círculo de poder e se acomodou na ala VIP da cerimônia de transmissão de cargo do ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes.

Esteves constava na lista do cerimonial do ministério, que dispara convites para líderes empresariais e banqueiros. Segundo fontes próximas ao ministro, a lista pessoal de Guedes foi de apenas vinte pessoas, todos ligados à sua família. Na ala restrita para os convidados VIP, compareceram executivos como José Olympio Pereira, presidente do banco Credit Suisse, Octávio de Lazari, diretor-presidente do Bradesco, Cândido Bracher, presidente e CEO do Itaú Unibanco, Alexandre Bettamio, presidente da divisão latino-americana do Bank of America, Solange Ribeiro, diretora presidente adjunta da Neoenergia, Pedro Parente, presidente do conselho de administração da BRF, entre outros.

Após a cerimônia, Guedes recebeu o cumprimento dos convidados. Mas não de Esteves, que saiu alegando não gostar de filas cujo tempo de espera não sabe precisar. Ele não quis falar com a imprensa. Guedes foi chefe de Esteves no Pactual, o banco criado pelo ministro e que depois se transformou no BTG Pactual. Na minha vez de cumprimentar o ministro, perguntei se ele viu o banqueiro. “Não vi. Ele estava aí?”

A reaparição de Esteves em Brasília acontece poucos dias depois de ele ter retomado o controle do banco BTG Pactual. Em 28 de dezembro, ele comunicou oficialmente à Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, que voltava a controlar a instituição, depois de ser absolvido pela Justiça do Distrito Federal da acusação de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Anos depois, nada ficou provado. Mas a prisão causou estragos no banco, que teve de pegar emprestados 6 bilhões de reais ao Fundo Garantidor de Crédito, o FGC. A tempestade passou, o banco se reestruturou sob o comando de um dos sócios, o economista Pérsio Arida, que assumiu a presidência do conselho. Os sócios Marcelo Kalim e Roberto Sallouti também tiveram papel relevante na reestruturação do banco. Dos três, apenas Salloutti resiste no BTG. Kalim e Arida deixaram a sociedade. O conselho de administração foi assumido pelo ex-ministro do Supremo Nelson Jobim.

Contra Esteves ainda pesam incertezas. Um processo em que consta a delação do ex-ministro Antonio Palocci levou a Petrobras a suspender temporariamente uma arbitragem que tem com o BTG Pactual em torno da Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a construção de sondas para a estatal. Executivos da Sete Brasil indicados pela Petrobras foram envolvidos em esquemas de corrupção, o que levou o BTG e outros sócios a pedirem ressarcimento pelo dinheiro investido na empresa, que está em recuperação judicial. A Petrobras alega querer se certificar que o BTG não está envolvido. Esteves apressou-se em dizer à Justiça Federal de que está disponível para dar explicações sobre o caso.

A partir do início da década passada, Esteves ganhou fama de impetuoso no mercado financeiro. Em 2006, aos 38 anos, ele se tornou bilionário ao vender o Pactual, quando já era um de seus principais sócios, ao banco suíço UBS por 2,6 bilhões de dólares. Três anos depois ele e seus sócios recompraram o banco por 2,5 bilhões de dólares. Criou a partir daí o BTG Pactual, um dos maiores bancos de investimentos da América Latinal. Esteves é filho da classe media carioca e começou no Pactual consertando computadores em 1989. Se tornou sócio-gerente em 2002. Entre seus clientes, é conhecido por propor negócios ousados para multiplicar ganhos. Depois do freio que recebeu com investigações da Lava Jato, seu banco se voltou para o comércio eletrônico.

Na cerimônia em que Guedes foi empossado, Esteves circulou entre os convidados e conversou com muita gente. Cumprimentou quem estava na ala VIP. “Vi, sim, o André Esteves, mas se quer saber, é melhor perguntar pra ele como ele está”, disse José Olympio Pereira, do Credit Suisse. Durante a posse de Guedes, um dos comentários mais propagados na área restrita era sobre a resiliência de André Esteves, que agora está de volta a Brasília.

Da Revista Piauí