Barragem de Brumadinho era do tipo mais barato e inseguro

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A tragédia de Brumadinho abriu no governo uma discussão sobre os tipos de barragens usadas no Brasil para acumular os rejeitos da mineração. A barragem 1, da mina do Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu na sexta-feira (25), usava o sistema “a montante”, que consiste em depositar os rejeitos em camadas, num vale, fazendo o alteamento da barragem conforme aumenta o volume do material, resultante do beneficiamento do minério de ferro – o produto “dispensado” é formado basicamente por ferro, sílica e água.

Por isso, no processamento do minério de ferro, o rejeito tem alta umidade. “É sempre um risco maior com mais água. As barragens que costumam dar problemas são geralmente as de montante”, declarou Maurício Ehrlich, professor do programa de engenharia civil da Coppe/UFRJ, especialista em geotecnia.

Além disso, é uma técnica barata porque é possível aumentar a capacidade de armazenamento ao fazer o alteamento das barragens (na prática, aumentando a face de contenção). “Há uma vantagem econômica, mas um impacto ambiental maior, porque você vai estocar água. Vai estocando grandes volumes de água.”

Há tecnologias mais sofisticadas para depósito do rejeito, porém são mais caras. Consistem em tornar o rejeito mais seco, usando uma espécie de filtro que o separa da água. Esse sistema demanda o uso de outra tecnologia e encarece a produção, daí a resistência das mineradoras.

“As mineradoras discutem como podem fazer a produção de uma maneira mais barata, tentam baixar ao máximo o custo de produção, o que é normal. E a deposição é um custo de produção. É mais barato simplesmente estocar do jeito que está.”

Após o acidente da barragem do Fundão, em Mariana, em 2015, a Assembleia Legislativa de Minas chegou a analisar o endurecimento da legislação envolvendo as barragens e discutiu-se proibir as do tipo “a montante”. Mas a proposta acabou não avançando. Essa discussão tende a ser retomada pelo governo federal. “Se isso acontecer, vai ter um impacto no preço do minério. Vai ter que se virar para ficar competitivo mesmo assim”, disse.

Do G1