Imprensa internacional considera Bolsonaro decepcionante e engessado em Davos

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Em sua maioria, a imprensa internacional tratou o discurso de Jair Bolsonaro em Davos como uma decepção. Assim como na mídia nacional, o ponto que mais recebeu destaque foi o curto tempo da fala do presidente, de menos de 15 minutos.

Outras publicações destacaram pontos como o casaco com que o presidente foi ao palco, a expectativa e curiosidade que cercaram sua participação, o apelido de “Trump Tropical”, a ausência de propostas concretas e a reação do público.

Nos Estados Unidos, o New York Times , disse que, na ausência de Trump, Bolsonaro era “o rosto do populismo em Davos”, onde tentou transmitir uma imagem mais apaziguadora, mas nem sempre com sucesso.

“Bolsonaro tentou aparar as arestas da mensagem de insurreição que o levou à Presidência no ano passado. Ele vendeu o Brasil para o público endinheirado reunido nesta estação de esqui alpino como um bom lugar para fazer negócios — um país comprometido com a erradicação da corrupção e com a reversão das regulamentações.”

“Mas Bolsonaro também disse que o Brasil eliminaria a ideologia de esquerda de sua política e sociedade e não pediu desculpas por enfatizar o crescimento econômico, algo que seus críticos dizem que virá ao custo de desproteger o meio ambiente brasileiro”, escreveu o jornal, que se referiu aos aplausos da plateia como “tímidos”.

Washington Post , por sua vez, escreveu que Bolsonaro “decepcionou”. “Dada a ausência de Donald Trump e de outros líderes de destaque, Bolsonaro, um ex-militar de extrema-direita conhecido por sua retórica furiosa e frequentemente ofensiva, parecia ser uma das atrações principais.”

“Bolsonaro falou por pouco mais de dez minutos, oferecendo um discurso que observadores chamaram de ‘sem vida’ e ‘engessado’. Assim como todos os outros líderes mundiais que vão a Davos, ele disse que o seu país está ‘aberto’ para os negócios, mas ofereceu pouca informação sobre as reformas que pretende promover. Ele simplesmente invocou a capacidade de seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes”, afirmou o jornal.

No Reino Unido, o Guardian destacou que Bolsonaro, em sua ênfase nos negócios, “alarmou ambientalistas”. “O novo presidente de direita do Brasil, Jair Bolsonaro, despertou novo alarme entre os ambientalistas depois de salientar que a proteção do ecossistema insubstituível de seu país precisa ser compatível com o crescimento da economia.”

“Em declarações que pouco fizeram para amenizar os temores dos riscos que uma estratégia de crescimento indiscriminado representaria para a região amazônica, Bolsonaro usou sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o controle no início do ano para delinear uma agenda fortemente pró-negócios”, publicou o jornal, de centro-esquerda.

Financial Times , por sua vez, destacou que, em uma participação “breve e cuidadosamente controlada”, o presidente prometeu “um novo Brasil” e “melhorar o ambiente de negócios e proteger o ambiente”. “Consciente de sua reputação controversa, toda a sua aparição tomou pouco mais de 15 minutos, e ele segurou cartões com dicas ao responder perguntas”, escreveu o jornal.

Na França, o Le Monde publicou que o presidente “se satisfez com o serviço mínimo: uma participação concluída em menos de 15 minutos, apesar de ser pontuada por um convite para irem ‘descobrir’ o Brasil, suas praias e a Floresta Amazônica”. O jornal diz que Bolsonaro, também por seu apelido de “Trump Tropical”, despertou a curiosidade no fórum, reforçada pela ausência de Donald Trump, Emmanuel Macron e Theresa May, todos muito envolvidos com “crises em seus próprios países para poder viajar.”

“Agarrado a suas colas, levado ao palco por um ajudante, o presidente brasileiro mais ou menos evitou as perguntas que lhe foram feitas pelo organizador do FEM, Klaus Schwab, sobre os detalhes de suas próximas reformas, correndo o risco de incentivar os que o acusam de amadorismo”, acrescentou.

Já o Le Figaro disse que o presidente foi “a vedete” do primeiro dia de fórum. “Sem tirar o sobretudo, de pé no palco das palestras plenárias, ocupado, o chefe de Estado brasileiro proferiu um discurso de apenas dez minutos e depois respondeu a perguntas pouco atraentes de Klaus Schwab, o fundador e chefe do conselho”, escreveu a publicação de centro-direita.

Na Itália, o La Repubblica começa o texto com a seguinte descrição: “Os aplausos são morníssimos. Tanto que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro sai do palco um pouco engessado, ainda com o casaco, e admite estar ‘muito empolgado’. O ‘durão’ da ultradireita sul-americana, o presidente homofóbico e xenófobo, de tons marciais e com uma paixão pelas armas de repente parece um cordeirinho na frente do público rico e poderoso”.

Já na Alemanha, o Süddeutsche Zeitung ressalta que Bolsonaro falou menos da metade do tempo reservado, “o que é raro em Davos”, e que foi “pouco concreto” em suas propostas econômicas. O jornal contrasta a expectativa para a fala do mandatário brasileiro, elevada, com o que o foi apresentado:

“Mesmo nos cafés em Davos, o apelido de ‘Trump dos Trópicos’ é conhecido. Um ano após a aparição de Trump no Fórum Econômico Mundial na Suíça, Bolsonaro está chegando e conquistando o grande palco. Trinta minutos estão separados para ele, os jornalistas são convidados a chegar com horas de antecedência para conseguir um assento. Tudo isso não era necessário: Bolsonaro não precisou de 15 minutos no palco e o salão não estava cheio.”

Da Época