Martha Rocha, que teve carro baleado no Rio, recebeu ameaças de morte

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A deputada estadual e ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Martha Rocha (PDT-RJ), disse neste domingo (13) que recebeu, em novembro passado, três notificações de ameaça de morte vindas por meio do Disque Denúncia. Segundo a parlamentar, as ameaças teriam partido de um “segmento da milícia que planejava atingir algumas autoridades do Rio” e seu nome estaria entre os alvos.

O carro em que Martha Rocha, sua mãe de 88 anos e seu motorista estavam foi atingido por tiros na manhã deste domingo, na Penha, zona norte da cidade. A deputada deixou a Tijuca, onde mora, também na zona norte, por volta das 9h05 para buscar a mãe para irem à missa no bairro vizinho da Penha.

No trajeto para a igreja, na rua Belisário Pena, seu motorista, que é subtenente reformado da Polícia Militar, teria percebido uma movimentação estranha na traseira do veículo e alertou a deputada, que ocupava o banco detrás do carona, onde estava sua mãe.

Ela contou que quando se virou viu que um carro branco modelo Cetra estava se aproximando e o ocupante do carona, um homem que vestia roupas pretas, luvas e touca ninja, colocou metade do corpo para fora da janela e disparou de fuzil contra seu veículo, que é blindado.

“Em determinado momento, o motorista desacelerou para ajustar o cinto de segurança da minha mãe quando eu percebi que ele tinha um ar de preocupação. Perguntei e ele disse algo como ‘olha ai atrás'”, disse a ex-delegada a jornalistas antes de prestar depoimento na Delegacia de Homicídios nesta tarde.

Ela contou que o motorista acelerou em direção a Avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade, e foi perseguido pelos atiradores. A deputada orientou sua mãe a se abaixar e disse que olhava para trás várias vezes para informar ao motorista a localização dos agressores.

Com movimentos de zigue e zague, o carro venceu uma pequena retenção na avenida, se distanciou dos criminosos e conseguiu despistá-los por completo, ao entrar em uma rua do bairro de Olaria que os agressores passaram direto.

O veículo da deputada percorreu ainda alguns metros até parar por conta de dois pneus furados. Ali, próximo ao Clube Olaria, o motorista disse que havia sido ferido no tornozelo direito. Martha Rocha e sua mãe não sofreram ferimentos. Ela pediu ajuda a uma pessoa que passava de carro no local e foram todos para o hospital Getúlio Vargas. O motorista foi tratado e recebeu alta em seguida.

“Tenho clareza do que vi e me comportei o tempo todo como policial”, disse ela, que afirmou não andar armada. “Eu pude ver que a pessoa do banco do carona portava um fuzil que me parece ser um M16 e que era alta, porque colocou metade do corpo para fora da janela antes de fazer os disparos”.

A ex-delegada evitou dar detalhes completos do percurso e das ameaças que havia sofrido para não atrapalhar as investigações. Ela disse não poder dizer com certeza absoluta de que se tratou de um atentado, já que não saberia dizer a motivação clara. A deputada lembrou que teve atuação contra grupos milicianos quando foi chefe de Polícia Civil e quando ocupou o posto de delegada titular da 28º DP, em Campinho, zona oeste, área de atuação da milícia.

Segundo Rocha, em novembro passado chegou ao seu conhecimento via denúncia anônima do Disque Denúncia um plano de milicianos para matar autoridades no Rio. Seu nome integraria uma lista de autoridades que um segmento da milícia queria atingir. Ela afirmou que constavam nas denúncias, inclusive, a localidade de onde teriam partido as ameaças.

Na época, com o estado sob intervenção federal, ela diz ter alertado o general interventor, Braga Netto, e o secretário de Segurança, general Richard Nunes. O então chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa e o subchefe operacional da corporação, Gilberto Ribeiro, também teriam sido informados, segundo ela. Eles teriam oferecido escolta por um mês à parlamentar, que recusou, pedindo uma análise de risco para avaliar a necessidade ou não da medida.

Paralelamente, ela dispensou seu carro oficial da Alerj que não era blindado e comprou um Corola Branco blindado. Desde então, ela diz não ter recebido notícias sobre investigações das ameaças.

Atualmente, a blindagem de veículos permitida no Brasil não resiste a tiros de fuzil. Um experiente policial ouvido pela Folha afirmou que mesmo em um carro blindado, sobreviver a um atentado a tiros de fuzil é questão de sorte. Rocha agradeceu à perícia e calma de seu motorista durante a perseguição.

Os chefes da Polícia Civil foram substituídos com a eleição do novo governador. Os generais da intervenção atuam na transição da estrutura da segurança pública do Rio para o governo que assumiu este ano. A Polícia Civil do Rio disse que está apurando os fatos.

A delegada presta depoimento nesta tarde na Delegacia de Homicídios e contou que refez todo o trajeto desta manhã com os investigadores.

O dinâmica do ataque à deputada é similar ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta em 14 março no ano passado, em crime que ainda não foi esclarecido.

Marielle voltava para casa de uma palestra sobre movimento negro no centro da cidade quando o carro em estavam ela, seu motorista e uma assessora foi interceptado e atingido por tiros. Marielle e o motorista Anderson Gomes morreram no local. As câmeras da rua em que o crime ocorreu estavam desativadas e há poucas testemunhas oculares do caso.

O assassinato continua sem explicação, mais de 300 dias depois da morte da vereadora. A forma profissional como o crime foi cometido aponta para a atuação de grupos de extermínio ou milicianos.

Martha Rocha foi primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Rio, cargo que assumiu em 2011 e ocupou durante três anos.

Quando se lançou na política, em 2014, dizia não entender a segurança pública do Rio como um “jogo político”. “Temos que aprender que a segurança pública é uma política de Estado. Assim sendo, ela deve ter planejamento, protocolos estabelecidos, projetos, e não ficar ao bel prazer de quatro em quatro anos.”

No último ano, ocupou a comissão de Segurança Pública da Alerj. Apesar de ser mais próxima da Polícia Civil, a deputada apoiou a campanha de policiais militares pelo fim do regime adicional de trabalho obrigatório, no qual agentes são convocados compulsoriamente a trabalhar em dias de folga.

Rocha se reelegeu deputada estadual para a legislatura 2019-2022 com 48.949 votos, a 20ª votação mais alta para a assembleia do Rio. Seu partido, o PDT, conseguiu manter três cadeiras na Alerj.

Da FSP