Negacionismo climático complementa onda conservadora do Brasil

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“Eu acredito na ciência. E ponto final.” Foi assim que o novo presidente eleito, Jair Bolsonaro, respondeu a um repórter que quis saber se o político acreditava em “aquecimento global”. A declaração, dada em uma pequena entrevista coletiva no dia 1º de dezembro, soou como uma espécie de remendo a declarações desastradas do próximo governo sobre preservação do meio ambiente.

O cenário era de terra arrasada. As ameaças de que o Brasil pode se retirar do Acordo de Paris, a desistência de sediar a próxima Conferência do Clima da ONU, a COP 25, e as declarações do futuro ministro Ernesto Araújo sobre as preocupações ambientais serem “parte de um dogma marxista” compõem uma teia que preocupa a comunidade científica brasileira e internacional, mas isso não é tudo. Ao mesmo tempo em que deixa pesquisadores e parte da população em estado de alerta frente aos retrocessos ambientais que o país pode enfrentar, a emergência desse traço conservador empolga um grupo bem específico, que, apesar de pouco numeroso, tem potencial para fazer circular polêmicas e narrativas conspiratórias: os negacionistas climáticos.

Diferentemente dos céticos, que refutam a existência de qualquer tipo de mudança na Terra, os negacionistas, de forma geral, reconhecem que o planeta vive uma transição climática. Para eles, a temperatura muda, as concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, idem, e o meio ambiente passa por transformações constantes, mas nada disso seria reflexo de uma ação antropogênica.

Em outras palavras, no microcosmo negacionista, a ideia de que as atividades do ser humano provocam um aquecimento global seria uma falácia, um discurso reforçado por nações mais desenvolvidas — sobretudo as europeias — a fim de atravancar políticas de desenvolvimento em lugares como o Brasil. Essa intervenção externa, segundo a comunidade, viria na forma de metas e convenções impostas por países mais influentes, que acabam freando atividades essenciais para a economia brasileira, como o agronegócio e as indústrias nacionais.

O cenário real das mudanças climáticas, no entanto, não tem nada de mirabolante. Pelo contrário: é fundamentado em evidências científicas estudadas por pesquisadores do mundo todo e revela um prognóstico estarrecedor. De acordo com o último relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em outubro deste ano, a humanidade precisa se engajar em ações que limitem em 1.5ºC o aquecimento da Terra, se tomarmos como base a temperatura do planeta na era pré-industrial. Isso significa que, se comparado com o período entre 1850 e 1900, o mundo aqueceu em ritmo vertiginoso e agora é preciso interromper esse ciclo. Continuar nessa toada promete trazer consequências catastróficas em escala planetária – entre outras mazelas, problemas na produção de alimentos, aumento da extinção de espécies, desequilíbrio de ecossistemas inteiros e surgimento de doenças decorrentes da poluição fazem parte do pacote.

Da Vice