No Brasil, mais de 400 mil pessoas vivem na rua

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Uma das minhas resoluções de ano novo tem sido deixar o carro na garagem e andar mais a pé e de transporte coletivo.

Com isso, defronto-me diariamente com as mazelas paulistanas. A situação da população de rua é uma delas. Nesta segunda (7), em uma caminhada de 4,5 km da minha casa, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), até a sede da Folha, no centro, contei 38 pessoas dormindo em calçadas, em meio a muito lixo, cheiro de urina e fezes. Se tivesse estendido a caminhada um pouco mais, em direção à cracolândia, esse número chegaria a centenas.

Na av. Doutor Arnaldo, bem em frente ao Instituto Emílio Ribas, uma moradora de rua se levantou abruptamente e atravessou a via esbravejando, sem olhar para o trânsito intenso à sua volta. Um ônibus e um carro frearam para não atropelá-la. Pego de surpresa, um motoqueiro bateu na traseira do carro, se desequilibrou e caiu no chão.

Mais um quilômetro adiante, no fim da av. Angélica, outra cena parecida. Aos gritos, um morador de rua perambula no meio da via e os carros vão se desviando dele. Também teve a sorte de chegar ileso na outra calçada.

Estimativas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 2015, dão conta de que 7.335 pessoas dormem nas ruas da capital paulista (outras 8.570 passam a noite em abrigos). No Brasil, a população de rua soma mais de 100 mil indivíduos.

Mas, para órgãos como o Conselho Nacional de Direitos Humanos, esses números não refletem a realidade. O país teria mais de 400 mil moradores de rua vivendo em terrenos baldios, buracos, lixões e outros lugares em que a assistência não chega.

Os números do Ipea, baseados em dados das prefeituras, levam em conta apenas aqueles que buscam assistência ou que estão em praças e vias mais movimentadas.

Essas pessoas vivem sob estigma e isolamento social, sem acesso a direitos humanos básicos e sem perspectiva de um futuro melhor. São submetidas a todo tipo de abandono e deterioração pessoal.

Como alívio temporário para o frio, a fome, a dor, o medo, a solidão e a ausência de esperança, muitos recorrem ao álcool e às drogas, cujos efeitos na saúde mental podem ser devastadores. Isso sem contar os outros transtornos mentais que já acompanham muitos deles.

A política nacional voltada a essa população ainda engatinha no país. Instituída pelo governo federal em 2009, teve adesão de apenas oito capitais: Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte , São Paulo, Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro.

Na saúde, há avanços, como os consultórios de rua, inseridos dentro da Raps (Rede de Atenção Psicossocial). Mas também são poucos diante de uma população que só cresce. Até o fim de 2018, eram 144 equipes em atividade no Brasil, incumbidas de prestar atendimento básico, especialmente em cuidados psicossociais, a esses moradores que, por várias razões, têm dificuldades de acesso aos serviços de saúde.

Como o governo de Jair Bolsonaro (PSL) vai lidar com essa população? Diante de tantas ameaças às políticas sociais e sem demonstrar preocupação com as desigualdades que assolam o país, isso ainda é uma incógnita.

Já o atual ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), tem dado bons sinais ao setor, reforçando que pretende reestruturar e fortalecer a atenção básica, porta de entrada no SUS. Para isso, conta com um corpo técnico experiente em gestão pública, especialmente nessa área.

Basta saber se ele terá bala na agulha para a tal reestruturação. Mudanças demandam recursos, e Bolsonaro já disse com todas as letras que não pretende investir mais verbas no cronicamente subfinanciado SUS.

Da FSP