O mal não está em “vilões”. Pode estar ao seu lado. Ou em você!

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Por Antonio Ozorio

Na sua renúncia à cadeira de deputado Jean Wyllys falou que a violência contra ele foi banalizada.

Mesmo que não se concorde ou goste dele, a renúncia por si só deveria despertar preocupação e tristeza, pois quem perdeu foi a democracia; mas, ao contrário, o fato virou fonte de homofobia, chacotas, desdéns, piadas, especulações e todo tipo de maldades, inclusive de políticos graduados.

As repercussões mostraram que estamos colhendo rápido os frutos de uma sociedade pautada pelo ódio.

Sempre achamos que o mal tem uma faceta demoníaca e se apresenta através de vilões, como nos filmes, ou de pessoas com cara de mal ou instinto maldoso.

Quem explicou que não é bem assim foi a filósofa Hannah Arendt, no livro “Eichmann em Jerusalém”. O livro é um relato jornalístico sobre o julgamento do nazista Adolf Eichmann, um dos principais organizadores do Holocausto.

Esperava-se que o nazista fosse um carrasco com face de monstro sanguinário, mas ele era um simples funcionário que seguia ordens e não refletia sobre os seus atos.

Na reflexão filosófica Arendt nos mostra o perfil de um burocrata totalitário do século passado, cujas ações deram sustentação para as tragédias cometidas pelos regimes totalitários. Eichmann era um homem simples e que não fazia considerações morais sobre as suas ações cotidianas.

Arendt elaborou o conceito de banalidade do mal, a face superficial da condição humana.

Uma boa reflexão do livro é que a pessoa incapaz de pensar e de produzir julgamentos éticos, sempre estará propensa a praticar o mal.

Mas há algo ainda pior, segundo Arendt: é a banalização do mal. Sim, conforme ela dizia, “a banalização do mal é pior do que o próprio mal”

Antonio Ozorio é Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo