Plataforma pró-armas despreza milícias, traficantes e colapso em presídios

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Leia a coluna de Bruno Boghossian, jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bolsonaro paga dívida com decreto das armas, mas ignora crise da segurança

Nos breves cinco minutos que usou para apresentar o decreto que facilita a posse de armas, Jair Bolsonaro achou desnecessário falar de segurança pública.

Para o presidente, o “cidadão de bem” que tiver quatro pistolas pode “ter sua paz dentro de casa”. Nada foi dito sobre milícias que extorquem e matam, traficantes que dominam favelas e bandidos que comandam o crime de dentro dos presídios.

Bolsonaro acelerou a edição do decreto para cumprir uma promessa de campanha. Pagou uma dívida com seu eleitorado fiel e animou sua base política na largada do mandato.

Ainda que a permissão se justifique em alguns casos, como nas zonas rurais, a medida é basicamente ineficaz para a redução da violência e dos índices de criminalidade.

Coube a Sergio Moro o constrangimento de levar o país ao mundo real. Em nota divulgada mais tarde, o ministro lembrou que sua pasta elabora projetos para combater o crime e afirmou que a flexibilização da posse de armas não provocará “necessariamente” um aumento do número de homicídios. Alguns estudos apontam que, sim, isso costuma ocorrer.

Uma mudança visível na segurança leva tempo e depende do Congresso, mas Bolsonaro abre mão de elencar prioridades e de mostrar empenho em implantar políticas que vão além de curativos superficiais.

O governo ainda fez uma trapaça técnica para permitir a liberação da posse de armas em todo o país. A taxa de homicídios que serve de critério para a permissão abrange todos os estados. A autorização será mantida mesmo que esses índices caiam.

Bolsonaro não apenas ignorou propostas de valorização das polícias, investimentos em inteligência e compra de equipamentos. Ele também dobra a aposta ao sinalizar que o governo vai trabalhar pela liberação do porte de armas nas ruas.

A solução armamentista alimentada por clubes de tiro tem a densidade de uma piscina inflável. O governo molha os pezinhos, mas corre o risco de se afogar depois no mar revolto da crise da segurança.

Da FSP