Após queda de Bebianno, filho de Bolsonaro retorna ao trabalho falando menos

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Às 16h10 de quinta (21), o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), publicava um tuíte de seu celular. “O isentão, ahhh o isentão”, dizia a crítica cifrada aos que preferem não escolher lados na disputa política.

Com o aparelho nas mãos, Carlos estava sentado na segunda fileira do plenário da Câmara Municipal do Rio. A sessão já havia começado.

O filho do presidente voltou à Casa no último dia 15, depois de ter tirado quatro licenças desde a campanha eleitoral para acompanhar o pai.

Se no Twitter o filho do presidente é chamado de pitbull, alcunha abraçada por seus eleitores, na vida real o vereador se mantém fugindo dos holofotes. Avesso à imprensa, driblou jornalistas durante a semana na Câmara do Rio.

O retorno de Carlos de Brasília ao Rio de Janeiro coincidiu com o fim do recesso para os vereadores e com a queda do ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), a primeira do governo Bolsonaro.

Com a revelação pela Folha do esquema de laranjas do PSL, Bebianno, que presidiu o partido nas eleições, tentou se explicar ao presidente, que, internado em São Paulo após passar por cirurgia, se recusou a falar com ele por telefone.

Para negar a crise, o ministro disse que falara com Bolsonaro, mas foi chamado de mentiroso por Carlos pelo Twitter —e depois pelo próprio presidente da República—, ampliando a crise que terminou com a sua queda.

Carlos e Bebianno mantinham rusgas desde o ano passado. Desde a confirmação da demissão do ministro, na segunda (18), Carlos não tratou mais do tema nas redes. A influência dos filhos tem preocupado aliados de Bolsonaro.

No olho do furacão após a queda de Bebianno, Carlos escolheu não discursar no plenário e manteve nos últimos dias na Casa a pouca expressividade dos últimos anos.

Isto não significa que o vereador não tenha se manifestado sobre os temas tratados —mas o fez com a mediação das redes sociais. Em duas ocasiões, Carlos foi ao Twitter expor sua opinião sobre projetos votados na Câmara do Rio. Mas, no plenário, silêncio.

Carlos se calou até mesmo diante da criação de uma frente parlamentar contra o modelo da capitalização da Previdência, proposta pelo vereador esquerdista Babá (PSOL). O filho de Jair Bolsonaro, que tenta aprovar a reforma a todo custo, estava na sessão, mas permaneceu quieto. O único a manifestar voto contrário foi Leandro Lyra, do Novo.

Na terça-feira (19), o vereador Jones Moura (PSD) requereu a concessão da Medalha de Reconhecimento Chiquinha Gonzaga a Michelle Bolsonaro, mulher do presidente. Carlos não foi um dos parlamentares que apoiaram o requerimento, que se refere a Michelle como uma pessoa de “enorme representatividade” diante da comunidade surda-muda brasileira.

Outra homenagem, no entanto, ganhou sua assinatura: a concessão da medalha Pedro Ernesto ao general Antônio Hamilton Mourão (PRTB), vice de Bolsonaro.

Ainda que não tenha discursado no plenário, Carlos foi obrigado a gastar saliva. O filho do presidente raramente foi visto sozinho, exceto quando concentrado no celular.

Cumprimentado por muitos, Carlos distribuiu abraços, batidinhas no ombro e sorrisos —mesmo para vereadores do lado oposto do espectro ideológico, como Renato Cinco (PSOL).

Mas Carlos se manteve mais próximo de seus assessores e de parlamentares afinados com suas pautas, como Carlos Eduardo (SD), Felipe Michel (PSDB) e Alexandre Isquierdo, do DEM, que, no plenário, referiu-se a Clodovil Hernandes como um “gay macho”.

O filho de Bolsonaro também manteve conversa reservada, colado à parede e distante da Tribuna da Imprensa, com o presidente da Casa, o vereador Jorge Felippe (MDB).

Ao final da sessão deste dia, publicou no Twitter: “Hoje pude conversar com vários vereadores e pretendemos, na forma da lei, levar considerações do município do Rio de Janeiro ao governo federal”.

Durante a semana, quando começava o burburinho entre os jornalistas, sabia-se que o filho do presidente havia adentrado o plenário. Nos últimos dias, Carlos marcou presença por volta das 16h, quando tem início a ordem do dia e a maioria dos parlamentares chega ao local. A sessão termina às 18h.

Durante essas duas horas, Carlos se ausentou em diversos períodos. Foi algumas vezes à Sala Inglesa, um anexo exclusivo para vereadores e assessores. De lá, um elevador faz ligação com os gabinetes.

Na manhã desta sexta (22), o vereador voltou a Câmara. No Instagram, fez uma selfie com um homem chamado Edivaldo, que, de costas, lia um jornal regional. “Confesso que a função real deste jornal não é esta!”, escreveu.

Da FSP