Bombeiros começarão pente fino nas buscas em Brumadinho

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Após uma manhã chuvosa em Brumadinho (MG) nesta segunda (4), os bombeiros aproveitaram a melhora do tempo à tarde para avançar em uma nova fase das buscas pelos cerca de 200 desaparecidos do rompimento da barragem da Vale —o número de mortos chegou a 134.

Com uma nova metodologia e mais máquinas pesadas, a nova fase promete ser um verdadeiro pente-fino na área devastada. Em compensação, a descoberta de novos corpos tende a ser mais lenta a cada dia, diante do novo patamar de dificuldade da operação.

Sob a chuva, as ações dos bombeiros foram dificultadas em meio à lama. Parte do efetivo foi deslocada para buscas no leito do rio Paraopeba, para onde a lama seguiu e onde no sábado (2) foram encontrados fragmentos de corpos.

À tarde, com o tempo mais seco, os bombeiros retomaram as buscas sob a nova fase.

Segundo o comando da operação, a primeira fase da busca, de varredura da superfície da lama, pode ter sido esgotada. A exceção é no entorno do vestiário da mineradora, onde foram encontrados três corpos no domingo (3).

O objetivo da mudança, promete a corporação, é “vistoriar cada metro quadrado da área atingida”. A região compreende 3,96 quilômetros quadrados (equivalente a mais de dois parques Ibirapuera).

A estratégia agora é dividir a região afetada em 44 quadrantes. Cada um deles, com área equivalente a quatro quarteirões, é ainda subdividido, orientando o trabalho específico de cada uma das equipes.

Como cada grupo carrega equipamentos de geolocalização, é possível acompanhar a evolução dos trabalhos e se certificar de que nenhum trecho deixou de ser vistoriado. Os bombeiros dizem que toda a área já havia sido vasculhada, mas não com este nível de detalhamento.

Parte dos trabalhos segue como anteriormente. Em áreas mais úmidas, bombeiros avançam rastejando sobre a lama, o que evita que afundem. Tapumes servem de plataforma sobre a lama, que em alguns pontos chega a ter 20 metros de profundidade.

Outra técnica usada é fazer perfurações na lama para que o possível odor de corpos soterrados seja identificado por cães farejadores.

As perfurações também podem identificar construções ou veículos soterrados, que podem ter barrado o avanço de corpos levados pela onda e ter sido a tentativa de último refúgio de quem viu a massa de rejeitos se aproximando.

A área atingida tem 281 edificações catalogadas, com a função de cada uma delas (se eram lojas, residências etc.). Ainda assim, muitas construções foram arrancadas de seu local original, tornando mais difícil a localização.

Se algo do tipo for identificado, é iniciada uma escavação. O trabalho é feito em grande parte com as mãos e pás. Quando há a possibilidade de se levar água, pode-se tentar uma mangueira com alta pressão para facilitar e acelerar a escavação.

Bombeiros dizem já ter ficado até um dia inteiro escavando o entorno de um carro que emitia um sinal de GPS. Ao final, descobriram que o veículo estava vazio.

Enquanto escavam, bombeiros têm de fazer o escoramento da lama, para que não haja acidentes. Esse é um dos motivos pelos quais atuar sob chuva é perigoso.

Desde sexta (1º), são feitos também trabalhos com máquinas como escavadeiras nas margens da região atingida, onde os rejeitos são mais secos e rasos. O número de máquinas do tipo tem crescido diariamente e chegou a 12.

A nova fase de buscas utilizará as escavadeiras para recolher grandes porções de lama e espalhá-las em outro local, para analisar se há corpos inteiros ou fragmentados.

Cada corpo encontrado tem sua posição registrada. Depois que a vítima é identificada, os bombeiros buscam entender qual era a posição mais provável da pessoa no momento da ruptura da barragem.

Assim, as equipes descobriram que corpos foram arrastados a distâncias de 200 metros a 1 km. Segundo modelos matemáticos prévios da própria Vale, o fluxo de rejeitos correndo pelo pé da barragem pode ter chegado a 45 milhões de litros por segundo. Outra dificuldade das buscas é o fato de que todos os objetos na lama ficam da mesma cor.

Ansiosa por respostas, a população de Brumadinho pressiona as autoridades para fazerem buscas por conta própria. Um cerco dos militares, porém, impedia a permanência de civis na área quente que não estivessem sob a coordenação dos bombeiros.

“A gente não precisa entrar na lama, só de buscar no entorno a gente já pode ajudar. Mas não deixam”, reclama uma moradora. Os militares argumentam a área afetada traz riscos para quem não tem preparo especializado.

Segundo os bombeiros, as buscas não têm prazo para acabar, mas, internamente, alguns militares já cogitam a hipótese de não ser possível encontrar todas as vítimas.

“O Corpo de Bombeiros permanecerá até que o último corpo seja devolvido aos familiares ou então em que a recuperação de corpos se torne inviável do ponto de vista fático, considerando a questão da decomposição”, disse no sábado o porta-voz da corporação mineira, Pedro Aihara.

Da FSP