Com escândalos do governo, unidade da esquerda fortalece oposição

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Sem líderes fortes no Congresso e com baixas no time de articulação política com a saída de Gustavo Bebianno da Casa Civil, o governo Bolsonaro pode enfrentar o ressurgimento de uma oposição barulhenta e intransigente. Embora grande parte da população veja como necessária a aprovação de pautas como a Reforma da Previdência, elas não deixam de ser delicadas.

Nesta quarta-feira, 20, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, publicaram e levaram ao Congresso a PEC da Reforma Previdenciária. É difícil encontrar um trabalhador que veja o aumento das alíquotas, a criação da idade mínima, além da elevação do tempo mínimo de contribuição e não se incomode. Caso a PEC passe da maneira que está, a idade mínima para se aposentar será de 62 anos para mulheres e de 65 para homens a partir de 2033, com 20 anos de contribuição. Além disso, as alíquotas poderão chegar a 19% a depender do nível de salário – começando em 7,5% para quem recebe um salário mínimo. Apesar de a economia com o plano estar prevista em R$ 1,16 trilhão de reais, na hora da briga no parlamento, a opinião popular fala mais alto.

Na noite de terça-feira, 19, o governo sofreu uma derrota em um tema muito menos espinhoso, o decreto que endurecia a lei de acesso a informações governamentais. O governo viu ser derrubado, em 367 votos a 57, o decreto assinado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão.

Por mais que o motivo de derrota tão acachapante não esteja diretamente relacionado à oposição, ela vê um caminho cada vez mais fértil para combater o governo. As crises envolvendo filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, no caso com o ex-motorista Fabrício Queiroz, e o vereador Carlos Bolsonaro, que bateu o pé e causou demissão de Bebianno, mostram que o avião do governo voa com turbulência constante.

“Bolsonaro está passando para a opinião pública a ideia de um governo atrapalhado”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo. “A oposição de agora é muito boa no que faz. Sempre que o governo vai mal, ela cresce, ela faz mais barulho.”

Com a visita do presidente e de Guedes ao Senado, os deputados do Psol aproveitaram para cutucá-los ao levarem laranjas e ao utilizarem aventais dessa cor. A crítica é em alusão ao caso das supostas candidaturas fantasmas do PSL. O partido pode ter lavado dinheiro por meio de candidaturas de mulheres que, na verdade, nunca existiram. Não impediram em nada a entrega da PEC. Mas, a cada crise, a cada constrangimento, ficam mais perto de conseguirem atar as mãos de Bolsonaro.

No caso da reforma da Previdência, por exemplo, a estratégia será focar em trechos do texto, e não no todo. Por exemplo. O texto prevê que o sistema de capitalização será definido por meio de lei complementar, o que retiraria a exigência de passar uma nova PEC para votar o novo regime. “Querem desconstitucionalizar a Previdência”, reclama o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ). “Vamos levar isso ao debate na Comissão de Constituição e Justiça e na Comissão Especial. Temos que ficar atentos a isso, pois outras coisas virão.”

O deputado fluminense confirma que o partido está aproveitando os momentos de instabilidade política para ganhar espaço no debate público. “Ter um ministro demitido no segundo mês de trabalho por uma divergência com o filho do presidente mostra que não há projeto de país, mas de poder”, afirma Freixo. “Por isso fizemos essa recepção simbólica, que representa um governo, eleito para ser antissistema, mas que na verdade é ‘supersistema’”.

Quanto à Previdência, Freixo não nega o problema. No entanto, para ele, a solução não está na ponta do gasto – o quanto cada aposentado recebe –, mas na ponta da arrecadação. “Não dá para dizer que a Previdência está em crise. Mas o problema de um maior, o da crise fiscal. Temos que debater arrecadação, tributarmos patrimônio e dividendos. Há outras formas de solucionarmos esse problema”, diz.

Da Revista Época