Gustavo Bebianno diz que o que importa para o governo é a reforma da Previdência

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Mesmo quando atuava como coordenador de campanha de Jair Bolsonaro e ocupava o cargo de presidente do PSL , o advogado Gustavo Bebianno dizia que detestava política. Agora, como ministro da Secretaria-Geral da Presidência e elogiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bebianno se dispõe até mesmo a contribuir na relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Sobre o senador Renan Calheiros (MDB-AL), diz que é prudente o governo não conservar adversários políticos.

O ministro admite que o governo Bolsonaro, apesar de seguir atacando os governos petistas, assumirá “o papel de vidraça”. Disse ainda que as bandeiras conservadores ficarão em segundo plano ante a prioridade da aprovação da reforma da Previdência.

Na mensagem enviada pelo presidente ao Congresso há um componente forte de crítica aos governos passados, como na campanha. Não está na hora de o governo começar a entregar?

O que nós vivemos hoje é fruto das escolhas equivocadas que fizemos no passado. Isso tem que ser lembrado, sim. O brasileiro tem a memória curta. No entanto, à medida que o tempo passa, o papel de pedra vai ficando para trás. O papel agora é de vidraça. O trabalho está sendo feito, todas as pastas têm atuado, e o time vem se afinando cada vez mais. De forma alguma nós continuamos a exercer apenas o papel de pedra.

Não seria mais desejável entregar, junto com a mensagem ao Congresso, a proposta de reforma da Previdência? Na segunda-feira uma minuta falava em idade mínima de 65 anos para todo mundo…

Esse vazamento foi feito de má-fé por alguém. Houve uma alteração no texto e foi divulgado para gerar barulho. O trabalho está sendo concluído. Em breve, a proposta estará pronta e será submetida ao Congresso. Não acho que haja algum tipo de atraso ou inércia. Pelo contrário, o Congresso voltou a funcionar na segunda-feira, está tudo caminhando dentro de um ritmo que entendemos conveniente.

Há outro texto pronto em que a idade mínima será diferente para homem e mulher?

Tem um outro texto, mas não vou entrar nesse mérito (idade).

O que já está definido na reforma e quais são as dúvidas?

São cálculos. A questão dos militares, de que forma participam e de que forma colaboram, apesar de terem uma realidade de vida totalmente diferente do mundo civil. O militar praticamente não tem direito nenhum, não tem adicional de insalubridade, de periculosidade, não tem hora extra. Da mesma forma que uma pessoa que trabalha no campo, debaixo de sol e da enxada, ele não tem a longevidade de alguém que trabalha em São Paulo num escritório com ar-condicionado.

O senhor acha que os militares deveriam estar na reforma da Previdência?

Não é questão da minha opinião, é uma questão de matemática. O Brasil não pode brincar, tem que encontrar um caminho que dê um horizonte de pelo menos 20 anos para frente.

Haverá uma idade mínima tanto para servidores quanto para o regime geral?

Sim.

O presidente foi eleito com uma pauta de costumes muito forte. O quanto isso pode atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência?

Temos que ter os pés no chão. Em uma campanha, você expõe tudo aquilo que você tem vontade de implementar. Aqui no mundo real, ao longo de um governo, você tem nuances, as mais variadas possíveis, de natureza política, principalmente. Toda essa pauta conservadora é muito importante, ela é valiosa para nós, tem o seu lugar e será tratada ao longo do governo. No entanto, em curto prazo, o que nos interessa aprovar é a reforma da Previdência. Aprovada, o Brasil dará uma sinalização muito forte para os mercados interno e externo, será capaz de atrair investimentos, ampliar sua infraestrutura, e com isso ganhar musculatura para implementação de outras pautas.

Como o senhor vê hoje a situação do Congresso em relação ao governo?

Na minha opinião, o deputado Rodrigo Maia foi a melhor escolha para a presidência da Câmara. É um parlamentar que, apesar de jovem, é bastante experiente. No Senado, o cenário era também positivo, independentemente de quem ganhasse. O senador Renan Calheiros é um homem muito experiente, tem um passado polêmico, mas o desejo de construir um futuro menos polêmico, um futuro nitidamente comprometido com o Brasil. Havia a expectativa que, mesmo que o senador Renan ganhasse, ele daria atenção devida a essa pauta econômica que o Brasil necessita. No entanto, a vitória do (Davi) Alcolumbre nos traz também boas perspectivas. É um senador do DEM e tem excelente relação com o ministro da Casa Civil.

O Renan não pode ter virado um opositor com condições de atrapalhar os planos do governo?

O senador Renan Calheiros é um homem maduro, experiente, já viveu grandes embates ao longo de sua carreira política. Logicamente, imagino que ele não esteja feliz com o resultado, mas não acho que ele vá permitir que qualquer ressentimento venha comprometer o futuro da nação.

A reforma da Previdência é um tema impopular. Como o governo vai conseguir convencer seus parlamentares a aprová-la?

O governo precisa de uma comunicação clara para a sociedade para dizer o seguinte: a suposta manutenção dos direitos que existem hoje é uma fantasia, porque o avião está caindo. Vai morrer todo mundo. Não adianta a achar que o avião vai continuar a voar com esse peso.

Rodrigo Maia, após a vitória na Câmara, lhe fez elogios. O senhor acredita que pode ajudar na interlocução com Renan Calheiros e o Congresso?

Nunca é bom você cultivar adversários políticos, principalmente diante de pautas que são polêmicas e importantes quanto essas (das reformas). Em relação a mim, tenho descoberto nos dois últimos anos como funciona a política. Está sendo uma experiência fantástica. Estou descobrindo, talvez, um talento que não soubesse que tinha. Tenho colaborado e acho que posso continuar sim com essa interlocução entre o Palácio e o Congresso.

Qual será o seu papel no governo?

Quando eu era pequeno, meu pai costumava me chamar de bombril porque eu tinha mil e uma utilidades. Eu me sinto bem em servir.

A Secretaria-Geral ficou com a secretaria especial de Modernização do Estado, que iniciou, na semana passada, uma ação nos seis hospitais federais do Rio. Quais medidas serão tomadas?

Os seis hospitais federais do Rio gastam aproximadamente R$ 500 milhões por ano, excluindo a folha de pagamento. Verificou-se que um mesmo produto é comprado por preços diferentes em cada hospital. Apenas se fossem comprados pelos preços mais baixos, haveria uma economia de R$ 50 milhões por ano. Vamos criar em Brasília uma central única de licitação e fazer também um centro de distribuição no Rio, mas com controle.

Existe possibilidade de militares atuarem nesses hospitais do Rio?

O governo avalia fortemente a hipótese e muito provavelmente alguns militares serão alocados em áreas estratégicas do Hospital de Bonsucesso.

De O Globo