Para analista, Maduro só se fortaleceu com os acontecimentos do final de semana

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Para a diretora do programa latino-americano do Wilson Center (EUA), Cynthia Arnson, Nicolás Maduro saiu vencedor no último fim de semana e a oposição se equivocou.

“Primeiro porque não se pode usar ajuda humanitária como ferramenta política, e não foi à toa que organismos internacionais como a Cruz Vermelha não entraram na operação”, disse Arnson à Folha.

“Segundo, houve um entusiasmo injustificado por parte da oposição com relação ao que poderia ocorrer no sábado. Os opositores esperavam uma deserção em massa dos militares e uma entrada vitoriosa de Juan Guaidó no país com os caminhões, o que não se produziu”, disse, em alusão ao líder da oposição e presidente interino da Venezuela.

Para Arnson, a oposição calculou mal sua possibilidade de ter êxito e “apesar de 150 soldados serem um número expressivo, são muito poucos perto do total, e são de baixo escalão, ou seja, não causam um verdadeiro dano às Forças Armadas”.

Ela lembrou que Maduro conta com os coletivos (milícia pró-governo), “que não têm nenhum pudor em serem extremamente brutais”.

Arnson avalia como distante a possibilidade de uma intervenção militar, sugerida por Guaidó e por Julio Borges, ex-presidente da Assembleia Nacional, exilado na Colômbia após os eventos de sábado.

“Guaidó lançou essa ideia porque sabe que entre a opinião pública na Venezuela há muita gente que a apoiaria. Por outro lado, eles têm consciência de que dificilmente a União Europeia e a maioria dos países latino-americanos embarcariam nela.”

Para Arnson, é um momento de “frustração e confusão” por parte da oposição, que vai ter de recalcular sua estratégia.

Ela crê que nem mesmo eles, que conhecem bem Maduro, acreditavam que as forças de segurança poderiam atuar “de forma tão consistente e violenta no bloqueio da fronteira, atirando contra sua própria população”.

A saída de Maduro do poder, para ela, “vai ser um processo lento, e não há sinais, por ora, de que isso se resolva rápido”.

A razão, explica, está no apoio da alta cúpula militar ao regime. “Os militares têm muito a perder com a saída de Maduro. Estamos falando de dinheiro mesmo, em participação nos negócios do Estado, lícitos e ilícitos, como o narcotráfico, a mineração ilegal. Além disso, a anistia que propõe a oposição é muito fraca.”

Depois do Estatuto de Roma (1998) e do estabelecimento das leis internacionais de direitos humanos, ficou muito difícil oferecer anistia como se fez no Cone Sul nos anos 1970, como propôs Guaidó.

“E, mesmo nesses casos, alguns países aplicam o princípio de que crimes de lesa humanidade não prescrevem de forma retroativa, como fez a Argentina.”

Ela cita vários tipos de exemplos de países que lidaram bem com a questão das anistias, como a África do Sul e a própria Colômbia com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

“Você pode oferecer reduções de pena ou liberdade em troca da verdade, e se a pessoa mente aí sim vai presa.”

“A grande questão é como dar anistia aos chefes de regimes que perpetram essas arbitrariedades. No caso, como não punir Maduro e sua cúpula? Que ele saia impune é algo que a população não vai querer que aconteça. Por isso é necessário que a liderança da oposição seja forte, assim como o respaldo internacional. É um momento crucial para Guaidó mostrar que pode conduzir um processo que é muito mais difícil do que ele imaginava que seria”, afirma.

Arnson avalia ainda que o isolamento internacional de Maduro passa a ser maior, apesar de ter saído vitorioso.

“As imagens de seu Exército atuando de forma brutal contra sua própria população e impedindo alimentos e remédios de entrarem no país não o ajudam internacionalmente.”

Da FSP