Rússia deixa tratado nuclear assinado na Guerra Fria

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O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou neste sábado 2 que a Rússia se retira do tratado histórico assinado com os Estados Unidos em 1987, sobre armas nucleares de alcance intermediário.

A decisão foi tomada depois que o presidente americano, Donald Trump, declarou na sexta-feira 1° que, devido a supostas violações por parte de Moscou, Washington não respeitaria mais o acordo.

“Nossos parceiros americanos anunciaram que suspenderam sua participação no acordo e nós fazemos o mesmo”, afirmou Putin, citado por agências de notícias russas.

A exemplo dos Estados Unidos, a Rússia acusa o governo americano de não respeitar o INF (sigla em inglês para denominar Tratados de Forças Nucleares de Alcance Intermediário). Putin se reuniu com seus ministros da Defesa e das Relações Exteriores antes de anunciar o fim da participação no pacto.

O INF, negociado pelo presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev durante a Guerra Fria, proibiu o uso de mísseis com alcance entre 500 e 5,5 mil quilômetros. Considerado histórico, o compromisso baniu 1.846 foguetes da então União Soviética e 846 dos Estados Unidos, todos com capacidade nuclear.

O principal negociador de Moscou para o INF, o vice-primeiro-ministro russo, Sergei Riabkov, advertiu também que o fim do acordo poderia levar à dissolução de outros pactos-chave para o controle de armas, como o New Start. O compromisso, que limita a quantidade de ogivas nucleares em poder de Washington e Moscou, expira em 2021. Riabkov assegurou que há uma “grande dúvida” sobre o que vai acontecer depois.

O presidente americano, Donald Trump, foi o primeiro a anunciar a saída do tratado a partir deste sábado, iniciando um processo de retirada que durará seis meses. Os Estados Unidos afirmam que a Rússia violou o pacto, depois que realizou testes em 2015 com o míssil de cruzeiro 9M729, com alcance de 2 mil quilômetros, instalado perto das fronteiras russas com a Europa, segundo Washington.

“Os Estados Unidos aderiram completamente ao tratado INF durante mais de 30 anos, mas não seguiremos forçados a cumprir seus termos enquanto a Rússia deturpa as suas ações”, declarou Trump em comunicado.

Já o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, assinalou que seu país, que anunciou formalmente suas preocupações com relação ao acordo há dois meses, tratou o tema das supostas violações ao tratado mais de 30 vezes com a Rússia.

“A violação da Rússia colocou milhões de europeus e americanos em grande perigo, busca colocar os Estados Unidos em desvantagem militar e emperra as possibilidades de que a nossa relação bilateral se mova em uma direção melhor”, acrescentou.

Alguns dirigentes europeus manifestaram sua preocupação com o fim do tratado e fizeram um apelo para Washington e Moscou dialogassem para salvar o acordo.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, convocou as duas partes a preservarem o compromisso. “Definitivamente, não queremos ver o nosso continente convertido novamente em um campo de batalha ou onde outras superpotências se enfrentam. Isso pertence a uma história distante”, afirmou.

A chanceler alemã responsabilizou Moscou por desrespeitar o INF e propôs negociar com o governo russo. “Para nós, está claro que a Rússia violou o tratado, por isso devemos falar com a Rússia”, indicou a chanceler alemã, Angela Merkel.

Já Trump recebeu diversas críticas nos Estados Unidos, onde os democratas lamentaram a política “América Primeiro”, defendida pelo presidente americano. “A administração Trump está correndo o risco de uma corrida armamentista e minimizando a segurança e a estabilidade internacionais”, afirmou a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

Da Carta Capital