Só mudou o nome: UDN, Arena, PFL e agora DEM. Eles continuam a controlar Congresso

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Por André Singer

A eleição nesta sexta (1°) da presidência da Câmara e o impasse quanto ao Senado atestam a capacidade de resistência de antigas estruturas no Brasil.

Do mesmo modo que elas passaram incólumes por quatro governos petistas —ao ponto de derrubarem o último—, agora sobrevivem ao terremoto provocado por Bolsonaro. Entrincheiradas no Congresso, continuam a controlar cartas decisivas do baralho nacional.

Ainda que importantes figuras do clientelismo tenham sido atingidas no período recente, o esquema fisiológico ficou intacto. Eduardo Cunha (MDB-RJ) e Geddel Vieira Lima (MDB-BA) estão presos; Romero Jucá (MDB-RR) não foi reeleito. Os substitutos, porém, representam tão somente outras máscaras para o mesmo baile.

Na Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reeleito presidente, representa “modus vivendi” que remonta à formação do Estado brasileiro. Os mandões locais se aninharam sucessivamente nos partidos Liberal e Conservador do Império, depois nos Republicanos de cada estado, acabando por desaguar na UDN e no PSD, em 1945. Após o golpe de 1964, tenderam a se concentrar na Arena.

Na redemocratização de 1985, para permanecer no poder, apoiaram Tancredo Neves, adotando a legenda de Partido da Frente Liberal (PFL). Há cerca de 15 anos, pela primeira vez fora do aparelho estatal, pois decidiram fazer oposição ao lulismo, a morte do PFL era dada como certa. Por isso, resolveram alterar a sigla mais uma vez, apelidando-se de Democratas.

Eis que atravessado o maremoto eleitoral provocado pela extrema direita, o DEM reaparece mais forte do que antes.

Com três ministros importantes na Esplanada, a agremiação dos ACMs e Caiados continua na linha sucessória presidencial, condição que adquiriu após o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff.

Maia na chefia da Casa do povo dá à velha turma o poder de encaminhar qualquer proposta de impeachment que porventura venha a se apresentar contra o atual ocupante do Planalto.

No caso do Senado, o racha que provocou o adiamento da decisão para este sábado (2) é uma briga entre iguais. Se a manutenção do controle do MDB, por via de Renan Calheiros (sucessor de José Sarney), for rompida, o poder vai cair, quase certamente, nas mãos do… DEM.

Nenhum vislumbre de renovação, nenhuma proposta diferente. Será o de sempre (o MDB presidiu a Casa em 32 dos 34 anos de democracia) com caras (um pouco) diferentes.

Em suma, o que chamo de “partido do interior” segue no comando do Congresso, mesmo que na dança das cadeiras entre o DEM e saia o MDB. O arco clientelista, a mais antiga instituição do país, não mudará se a sociedade não mudar. A ultradireita terá que negociar com ele se quiser governar.

André Singer é professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”
Da FSP