Veja em detalhes o caso das candidaturas laranja do PSL

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A suspeita de candidaturas laranjas do PSL abastecidas com verbas públicas atinge nomes de destaque do partido do presidente Jair Bolsonaro.

Os primeiros casos revelados pela Folha, em Minas Gerais, envolvem a atuação de Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo do governo federal.

No domingo (10), a reportagem mostrou novo exemplo, em Pernambuco, ligado ao grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar, que troca responsabilidades com Gustavo Bebianno, hoje ministro de Bolsonaro.

Entenda abaixo as suspeitas, as evidências de como funcionavam os esquemas e as versões dos envolvidos.

Qual a origem da suspeita de esquema envolvendo candidatura laranja do PSL?
Folha revelou, em 4 de fevereiro, que o ministro do Turismo do governo Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), deputado federal mais votado em Minas Gerais, patrocinou um esquema de quatro candidaturas laranjas no estado, abastecidas com verba pública do PSL.

Como funcionou esse esquema?
Marcelo Álvaro Antônio era presidente do PSL em Minas e tinha o poder de decidir quais candidaturas seriam lançadas. As quatro candidatas receberam R$ 279 mil da verba pública de campanha da legenda, ficando entre as 20 candidatas que mais receberam dinheiro do partido no país inteiro. Pelo menos R$ 85 mil foram destinados a quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje ministro.

Quais as evidências de que as candidaturas eram de laranjas?
Não há sinais de que elas tenham feito, de fato, campanha efetiva durante a eleição. Ao final, juntas, somaram apenas cerca de 2.000 votos, apesar do montante recebido para a campanha.

Há algum relato formal sobre esse assunto?
Sim, candidata a deputada estadual pelo PSL de Minas Gerais, Cleuzenir Barbosa, prestou depoimento no Ministério Público em 18 de dezembro e afirmou que foi coagida por dois assessores de Marcelo Álvaro Antônio a devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil de verba pública de campanha que ela havia recebido da legenda.

O que dizem o ministro do Turismo?
Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) disse que “a distribuição do fundo partidário do PSL de Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a lei” e que “refuta veementemente a suposição com base em premissas falsas de que houve simulação de campanha com laranjas no partido”

O que se sabe sobre candidatura laranja em Pernambuco? 
A Folha revelou em 10 de fevereiro que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018.

Como funcionou esse esquema?
Maria de Lourdes Paixão, 68, virou candidata de última hora para preencher vaga remanescente de cota feminina. O PSL repassou R$ 400 mil do fundo partidário no dia 3 de outubro, quatro dias antes da eleição —ela foi a terceira que mais recebeu dinheiro do partido no país

Quais as evidências de que ela era laranja?
A candidata sustenta que gastou 95% do dinheiro em uma única gráfica para a confecção de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos. Para isso, cada um dos quatro panfleteiros que ela diz ter contratado teria, em tese, a missão de distribuir, só de santinhos, 750 mil unidades por dia –sete panfletos por segundo, no caso de trabalharem 24 horas ininterruptas. A Folha foi em endereços vinculados à gráfica e não encontrou sinais de que ela tenha funcionado durante a eleição. Não há também sinais de que a candidata tenha de fato feito campanha. Lourdes Paixão teve somente 274 votos

O que é a cota de gênero e o que ela tem a ver com isso?
A atual legislação exige que 30% das candidaturas sejam do sexo feminino e também que 30% do fundo partidário e do fundo eleitoral sejam destinados para mulheres.

O que dizem os responsáveis pelo partido?
Luciano Bivar (presidente do PSL) nega que a candidata do seu estado tenha sido laranja e disse que a decisão do repasse de R$ 400 mil foi da direção nacional, na época presidida por Gustavo Bebianno, hoje ministro de Bolsonaro. Afirmou também que é contra as cotas e que mulher não tem vocação para política. Bebianno contradisse Bivar e afirmou que decisões de repasses são das direções estaduais. Em Pernambuco, o partido é presidido por Antônio de Rueda, advogado particular de Bivar. Disse ainda que nunca viu a candidata laranja.

O que o governo Bolsonaro diz sobre as suspeitas?
Hospitalizado, o presidente Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre o tema. Ele tem falado no Twitter, mas não comentou o caso. Hamilton Mourão, vice-presidente da República, afirmou, no caso do ministro do Turismo, que, se for verdade, é grave. Sergio Moro, ministro da Justiça, afirmou, também sobre o Turismo, que o caso será apurado “se surgir a necessidade”

O que pode acontecer?
No caso de Minas Gerais, já há uma investigação em andamento, por causa de uma denúncia de uma quinta candidata, que diz ter sido ameaçada e forçada a repassar dinheiro a uma empresa ligada ao ministro de Bolsonaro. A Polícia Federal também pode entrar no caso. Em Pernambuco, ainda não havia nenhuma notícia de investigação em andamento. O Ministério Público, porém, pode dar início a qualquer momento, encontrando indícios para tal.

Da FSP