Acesso a armas facilita massacres como o de Suzano, que chocou o Brasil

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Um dia antes do ataque à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), o professor Charles Branas, da renomada Universidade de Columbia, em Nova York, divulgou, com sua equipe, um dos mais extensos estudos sobre a relação do acesso a armas e as matanças em massa nos Estados Unidos.

Publicada na revista especializada British Medical Journal, a pesquisa concluiu que, quanto mais frouxas as leis de acesso a armas, maior a possibilidade de ocorrer ataques como o que chocou o Brasil na última quarta-feira (13/3). Em entrevista ao Correio por e-mail, Branas ofereceu “seus mais sinceros pesares pela tragédia no Brasil” e se mostrou reticente à proposta do governo federal de flexibilizar o acesso a armas no Brasil.

“Como nos Estados Unidos, o conteúdo das leis sobre armas pode ser relacionado aos tiroteios em massa. E as leis sobre armas existentes no Brasil já foram relacionadas a uma redução no número de homicídios”, afirma, recomendando a leitura de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista Health Affairs em 2007.

O estudo citado por Branas tem como primeira autora a professora Maria de Fátima Marinho de Souza, da Universidade de São Paulo (USP), e concluiu que, após a adoção do Estatuto do Desarmamento, em 2003, mais de 5 mil mortes por armas de fogo podem ter sido evitadas no Brasil no ano seguinte. Em 2004, observaram os cientistas, pela primeira vez em mais de uma década, a mortalidade relacionada a armas declinou 8% em comparação ao ano anterior.

A pesquisa divulgada na terça-feira por Branas corrobora, com dados dos Estados Unidos, os achados dos brasileiros. No estudo, a equipe do professor analisou as legislações dos 50 estados americanos e deram notas que iam de zero (restrição total ao acesso a armas) a 100 (permissão completa para adquirir armas). Depois eles cruzaram esses dados com os episódios de ataques em massa ocorridos no país entre 1998 e 2015. Conclusão: cada 10 pontos a mais na tabela representou um aumento de 11% no número de ataques registrados no estado.

Professores devem ser armados?
Perguntado sobre se concorda com declarações como as dos senadores Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e Major Olímpio (PSL-SP), que após o massacre em Suzano defenderam a tese de que uma população armada poderia evitar ataques desse tipo, Branas argumenta que a proposta carece de evidências.

O professor lembra que, após o tiroteio em uma escola da Flórida que deixou 17 mortos, em fevereiro do ano passado, a proposta defendida por Olímpio, de armar professores e funcionários de escolas, também foi aventada nos Estados Unidos, pelo presidente Donald Trump.

Diante do debate, o professor de Columbia publicou um estudo intitulado Armando professores: o que sabemos? Para onde vamos a partir daqui?, no qual observa: “Embora professores sejam capazes de usar armas de fogo adequadamente, não existem diretrizes baseadas em evidências para nos ajudar a desenvolver o treinamento necessário aos professores nem para o treinamento continuado para mantê-los preparados para quando a crise atacar.”

Assinado também por Sonali Rajan, colega de Branas na Universidade de Columbia, o estudo sustenta que “não há ainda meios para identificar professores que estariam dispostos a assumirem uma responsabilidade tão significativa nem informações suficientes para dizer se professores civis armados reduziriam ou aumentariam os riscos para si mesmos e seus alunos quando agentes da lei uniformizados entrarem em ação durante uma crise”.

Do Correio Brasiliense