Comemoração do golpe de 64 será com tropas em forma e desfile

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A determinação do presidente Jair Bolsonaro para que as Forças Armadas comemorem o golpe que implantou a ditadura militar em 1964 terá um efeito prático nos quartéis. Segundo generais ouvidos pelo GLOBO, uma cerimônia será realizada nos principais e maiores comandos do país, distinta do que era feito em anos anteriores. Esses generais preferem evitar o termo “comemoração”, mas falam em “lembrança de um fato histórico”.4

A cerimônia vai contar com tropas em forma em quartéis; aviso pelo mestre de cerimônia de que os militares estão ali para “relembrar um fato histórico ocorrido em março de 64”; execução do Hino Nacional; leitura da chamada ordem do dia, que é um texto elaborado pelo Ministério da Defesa; e desfile para encerrar o evento. No Exército, houve quem sugerisse tiros de canhão ao fim da cerimônia, o que acabou descartado por líderes dos comandos militares, conforme as fontes ouvidas pela reportagem.

Bolsonaro é um presidente da República que admira e exalta a ditadura militar, implantada no Brasil por meio de um golpe efetivado em 31 de março de 1964. No próximo domingo, o golpe completa 55 anos, e o presidente determinou a comemoração da data, conforme informação confirmada pelo porta-voz do Palácio do Planalto, o general Otávio do Rêgo Barros, na segunda-feira.

Além de exaltar a ditadura brasileira, Bolsonaro fez elogios públicos – já durante o exercício da Presidência – a dois ditadores de países vizinhos: Alfredo Stroessner, do Paraguai, e Augusto Pinochet, do Chile. No Brasil, a ditadura durou 21 anos, e foi marcada pelo golpe que apeou do poder um presidente, seguido do fechamento do Congresso e de prisões, tortura e morte de opositores ao regime. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade, concluído no final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, apontou 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura militar no Brasil.

Nas palavras do chefe de um comando, um “fato histórico” será “relembrado”, “gostem ou não”. Ele diz que a ordem do presidente é para que a rememoração esteja restrita ao circuito interno dos quartéis e que o mais provável é que ocorra somente nos maiores comandos, como os de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Amazônia.

Ainda conforme os generais ouvidos pela reportagem, o Ministério da Defesa já escreveu o texto que será lido na ordem do dia. O tom do texto é “conciliatório”, focado em “fatos históricos”, segundo eles. Esses militares dizem que o período de ditadura foi um “combate a uma tentativa de implantação do comunismo” e equiparam as ações à atuação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, quando pracinhas foram enviados para combate na Itália.

Antes de Bolsonaro, segundo os generais ouvidos pelo GLOBO, a lembrança do 31 de março de 1964 ficava restrita aos anfiteatros e a palestras sobre o que ocorreu, sem a existência de ordem do dia. Na gestão de Dilma, que foi torturada na ditadura, houve orientação para que os comandantes não celebrassem a data, o que causava incômodo a parte dos comandos.

De O Globo