Folha troca seu comando editorial e seu futuro está em risco

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A Folha de S. Paulo trocou hoje seu comando editorial em meio a uma disputa entre os irmãos Frias, aumentando a incerteza sobre o futuro de um dos maiores jornais do País numa época de polarização política inédita.

Maria Cristina Frias – que assumira o cargo de Diretora de Redação há seis meses, depois da morte do irmão Otavio Frias Filho – foi ‘destituída’ hoje pelo irmão mais novo, Luiz Frias.

O jornalista Sérgio Dávila, que estava há nove anos no cargo de Secretário de Redação e tem 25 de jornal, assumiu o posto.

A disputa, que põe em risco a sobrevivência do jornal e deve chegar à Justiça, envolve uma tentativa de reestruturação societária do Grupo Folha e a distribuição de dividendos dos negócios lucrativos da família”.

No comunicado em que anunciou a saída da irmã, Luiz Frias disse que a decisão foi tomada pela maioria dos acionistas. O grupo tem três acionistas com direito a voto: Luiz, Maria Cristina e Fernanda Diamant, viúva de Otavio.

Maria Cristina tomou conhecimento da decisão do irmão ao chegar ao jornal nesta segunda-feira – e, segundo relatos de jornalistas da casa, teve até o acesso ao seu endereço de email bloqueado.

Maria Cristina também foi destituída do cargo de editora da coluna Mercado Aberto, que foi extinta: ela ficou sabendo da notícia pelos colegas, que receberam um comunicado enviado a toda a redação. Quando tentou acessar seu email para ler o comunicado no celular, não conseguiu ter acesso.

No lugar da coluna Mercado Aberto, a Folha voltará a publicar o Painel S/A, uma coluna de notas sobre economia e negócios – agora sob o comando da jornalista Joana Cunha, que foi repórter de Maria Cristina na coluna e correspondente do jornal em Nova York.

Maria Cristina ainda participou de um almoço com editores que já estava na agenda. Foi acompanhada de um advogado e chamou de ‘covardes’ os executivos que tomaram partido do irmão, segundo pessoas que participaram da reunião.

Relatou ter sido ‘destituída’ por Luiz com o apoio da viúva de Otavio, a herdeira de sua participação acionária, e disse que o objetivo de seu irmão era fechar o jornal.

A briga entre os irmãos acontece uma semana depois de Maria Cristina dar uma entrevista à ombudsman da Folha, falando de seus planos para ampliar a presença de mulheres na redação e dos desafios de conciliar a direção do jornal com a coluna Mercado Aberto.

‘Gosto muito de fazer a coluna, mas considerei a princípio que as duas tarefas seriam inconciliáveis. Com o tempo, além da reação positiva de colegas e fontes de que seria importante continuar a escrever, eu me senti estimulada a prosseguir’, disse na entrevista.

A troca de comando ocorreu após a irmã defender mais investimentos no jornal. Luiz Frias comanda o Grupo Folha, o portal UOL e a operação lucrativa do PagSeguro, que na prática já funciona como um banco. Ele e foi contra o aporte por não acreditar mais no jornalismo na mídia impressa.

A mudança deve provocar uma reestruturação no grupo e mais cortes de funcionários.