Sites de disseminação de ódio comemoram massacre em Suzano

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Os atiradores Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos que mataram oito pessoas e depois tiraram a própria vida nesta quarta-feira (13) na Escola Estadual Raul Brasil em Suzano (SP) já ganharam status de heróis nos chans brasileiros de ódio. Nos fóruns como o 55chan e o Dogolachan, que são conhecidos por criarem conteúdos de ódio contra todo tipo de minoria, muitos já especulam se os atiradores frequentavam os sites.

Alguns chaneros, no entanto, lamentam que ambos não conseguiram ultrapassar o número de mortos do Massacre de Realengo, cometido por Wellington Menezes de Oliveira em 2011 que matou 12 crianças e depois tirou a própria vida.

Protegidos pelo anonimato, os chaneros especulam se os atiradores eram membros de algum dos fóruns. Alguns dias antes do atentado, publicações suspeitas foram feitas no 55chan e no Dogolachan. Uma publicação era de um usuário pedindo ajuda para achar os diários dos atiradores de Columbine em 1999 e outro post com apenas uma montagem de dois atiradores e uma referência à música “Pumped Up Kicks” da banda Foster The People, cuja letra é sobre um jovem que atira nos seus colegas de escola. Em comemoração, o 55chan colocou a mesma música para tocar automaticamente no site.

Thread publicada no site do Dogolachan um dia antes do atentado. Não se sabe se a autoria é de um dos atiradores.

Visto que a ordem do dia nesses chans é sempre a zoeira e a necessidade de causar revolta e choque para quem vê de fora, não é possível ainda cravar que os atiradores de Suzano de fato frequentavam esses fóruns ou que eles foram radicalizados a cometer o ato após terem contato com os chans.

Ano passado, o Dogolachan foi alvo de uma grande operação realizada pela Polícia Federal a fim de desmantelar o grupo e prender os dois criadores do grupo, Emerson Eduardo Rodrigues Setim e Marcelo Valle Silveira Mello. Marcelo foi preso e condenado meses depois a 41 anos, seis meses e 20 dias de prisão por associação criminosa, divulgação de imagens de pedofilia, racismo, coação, incitação ao cometimento de crimes e terrorismo cometidos na internet.

Mais ou menos um mês após a operação ser deflagrada, um dos membros do Dogolachan postou no fórum que iria se matar. Em resposta, chaneiros disseram que ele deveria levar mais gente com ele. André Luiz Gil Garcia, conhecido como Kyo El Fuego Sancto, atirou nas costas de Luciana de Jesus do Nascimento e depois voltou a arma contra o próprio peito quando foi encurralado pela polícia. A jovem morreu um mês depois no hospital.

A prisão de Marcelo só foi possível após a professora universitária e blogueira feminista Lola Aronovich passar quase uma década denunciando todas as ações de ódio e ameaças cometidas pelos membros dos fóruns contra ela. Lola é uma das feministas mais conhecidas do Brasil e continua sendo o grande alvo de ameaças de anônimos que frequentam o Dogolachan. Após a prisão e condenação de Marcelo, as atividades nos chans escassearam um pouco. O Dogolachan foi tirado do ar e um novo site foi criado na darknet.

Muitos chaneiros gostam de se gabar que estão organizando atentados ou planejando a morte de pessoas que eles consideram inimigos. Ameaças à jornalistas, figuras públicas e e-mails intimidadores assinados com o nome de Emerson são práticas comuns dos frequentadores desses chans. No entanto, ainda é possível perceber um certo medo de abrir a porteira do ódio após a prisão de Marcelo.

Dentre as várias threads abertas para os chaneiros comentarem sobre o caso, alguns postaram fotos da página da escola onde o atentado ocorreu e tirando sarro das garotas e garotos que aparecem sorridentes nas fotografias. Assim como Wellington em 2011, os atiradores agora serão tratados como mártires de um grupo anônimo de homens tristes e cheios de ódio.

Da Vice Brasil