Governo está dividido na guerra infantil de Bolsonaro contra Mourão e de Olavo contra militares

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O investimento incessante do governo Bolsonaro em desinteligência, provocação e cizânia não se volta apenas contra os inimigos externos –a esquerda e os defensores de direitos civis e princípios civilizatórios, vistos como feiticeiros macabros do marxismo cultural e do globalismo.

A luta é travada também dentro de casa, sem cerimônia, com a característica rudeza da direita das cavernas que está no poder.

É o que se vê nas disputas acaloradas entre os chamados olavistas, em referência aos seguidores do ideólogo Olavo de Carvalho, e o grupo de generais que integra a administração, a começar pelo vice Hamilton Mourão.

O confronto vem de longe e é atiçado pelos filhos de Bolsonaro os fiéis seguidores do santarrão da Virgínia. Steve Bannon, o estrategista alt-right demitido por Trump, mas paparicado pela família presidencial, já sugeriu que o vice renunciasse. E os arranca-rabos entre Olavo e generais tornaram-se rotineiros.

O lance mais recente da refrega foi o vídeo postado no canal de Bolsonaro no YouTube, em que se vê o filósofo a disparar um rifle e a lançar projéteis verbais contra os militares em conversa com um interlocutor não identificado.

Com sua peculiar fineza, o beato Salú do bolsonarismo diz que os “milicos” nas últimas décadas só fizeram “cagada”.  “Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas, que tomaram o poder. Eles dizem: ‘Livramos o país dos comunistas’. Não, eles entregaram o país ao comunismo.”

E por aí segue.

“Se tivessem vergonha na cara, confessariam seu erro, mas é só vaidade pessoal, vaidade grupal e vaidade esotérica. Os milicos têm que começar a confessar os seus erros.”

“Essa é a lei de Cristo. Primeiro, os seus pecados. Depois, os dos outros. Criaram o PT e não têm coragem de confessar.”

O vídeo apareceu na página de Bolsonaro no sábado (20). Foi divulgado por Carlos na manhã de domingo (21) e retirado do ar no fim da tarde.

O episódio aconteceu paralelamente à divulgação de áudios pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, nos quais o presidente, em mensagens de Whatsapp, se congratula com uma pessoa que atacou Mourão. Nas conversas, Bolsonaro faz ainda menção ao pleito de 2022 e diz que o vice terá uma “surpresinha”–comentário que pode ser interpretado como um sinal de que a reeleição está no radar.

A guerra entre os generais e o séquito de Olavo, cujo prestígio no governo ainda está por ser melhor explicado, chegou a um ponto de difícil retorno.

O vice já assumiu agenda própria, contradiz o presidente quando bem entende e é visto como boa alternativa em caso de eventual problema com o titular. Qual problema não se sabe ao certo.

Sabe-se é que Mourão dança a dança do golpista esclarecido –e sua coreografia parece despertar simpatias entre setores supostamente mais sensatos do mundo político e econômico.

Com menos de quatro meses de governo já se presencia um cisma de grandes proporções numa administração cuja índole caótica, primária e regressiva parece ser ainda tolerada por representantes do empresariado e das elites graças às promessas –aqui e ali fantasiosas, diga-se– do ministro da economia.

Da FSP