Salvini, ídolo italiano dos Bolsonaro, é acusado de trambiques

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Matteo Salvini, ministro do Interior e vice-premiê italiano, é um dos grandes ídolos da família Bolsonaro na Europa. O que não deixa de ser coerente: Salvini lidera a Liga (ex-Liga Norte), xenófoba, de ultra direita e alinhada no combate frontal à União Europeia, que seria a versão europeia do tal de “globalismo” que tanto aflige o bolsonarismo.

A Liga, de resto, é um dos raros partidos europeus que se dispôs a integrar o Movimento, o grupo ultradireitista que está sendo armado por Steve Bannon, aquele conselheiro que nem Donald Trump conseguiu suportar por muito tempo, tão rançoso que é. Nem por isso deixou de ser conselheiro dos Bolsonaros.

Pois bem, agora surgem outras informações a tornar o perfil de Salvini ainda mais suspeito: o semanário L’Espresso, com a data de domingo (28), informa desde a capa, que € 3 milhões (R$ 13,16 milhões) sumiram das arcas da Liga e, depois de passar pelas contas de sociedades privadas de recente formação, terminaram nos bolsos de “fidelíssimos do vice-premiê”.

Se você acha que já leu algo parecido, por exemplo, no caso de Fabrício Queiroz, o fidelíssimo dos Bolsonaros, não se enganou.

Entre os amigos de Salvini que aparecem na lista de L’Espresso figura Luca Morisi, o homem que cuida das redes sociais do vice-premiê (aposto que você também conhece gente, no Brasil, que cuida de redes sociais e se envolve em mais de uma confusão).

Há mais histórias obscuras envolvendo a Liga: a Região da Lombardia, então chefiada por Roberto Maroni, outra estrela da Liga, financiou a compra por € 800 mil de um edifício em Milão, que, poucos meses antes, havia sido adquirido por uma sociedade chamada Andrômeda, pela metade desse valor.

Outra histórinha exemplar: Armando Siri, subsecretário de Transportes e homem de confiança de Salvini, é acusado de ter cobrado suborno de € 30 mil em processo de concessão de energia eólica a um homem vinculado à Cosa Nostra, um dos braços da inoxidável máfia italiana (aqui, melhor não fazer comparações; as milícias brasileiras parecem escoteiros se comparadas à Cosa Nostra).

O outro vice-premiê, Luigi di Maio (do populista Movimento 5 Estrelas, sócio de governo da Liga) pediu a cabeça de Siri e acusou a Liga de atuar como Silvio Berlusconi, sinônimo de corrupção na Itália.

Tudo isso seria trivial em um país cuja classe política é chamada de “Casta”, a partir de um livro lançado em 2007 pelos jornalistas do Corriere della Sera Gian Antonio Stella e Sergio Rizzo. “Casta” por serem aparentemente intocáveis.

Acontece que partidos como a Liga e o 5 Estrelas chegaram ao poder surfando a onda da antipolítica (e também da xenofobia, no caso da Liga).

Aqui cabe outro paralelo com o Brasil: na Itália, a operação Mãos Limpas dinamitou o quadro partidário que predominou no pós-guerra. Deu margem à ascensão primeiro de Berlusconi. Mais recentemente, tornou-se inelegível, condenado por evasão fiscal, e seu lugar à direita acabou ocupando exatamente pela Liga, que agora até um sócio no governo (Di Maio) compara com Berlusconi.

No Brasil, a Lava Jato, se não chegou a detonar o quadro político tradicional, abalou-o de tal forma que abriu a brecha para a entrada de um outsider como Bolsonaro.

Que a família presidencial tenha por ídolo um político que deixa evaporar € 3 milhões cai na velha sabedoria popular, a do “diz-me com quem andas e te direi quem és”.

Da FSP