Secretário de Covas banca festas superfaturadas com dinheiro público

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Ninguém recebeu tantas emendas da cultura no ano passado quanto a Associação Jovens do Brasil, entidade que até 2017 não havia celebrado nenhuma parceria desse tipo. De um dia para o outro, tornou-se campeã em emendas. Foram dez eventos, todos na Zona Leste. Seis foram bancados por João Jorge, a um custo de R$ 1 milhão, e quatro pelo vereador Milton Ferreira, do Podemos, custo de R$ 135 mil.

A CBN obteve todos os processos desses eventos. A análise das prestações de contas mostra que, na prática, a ONG foi usada para desviar dinheiro público para empresas que pertencem aos próprios dirigentes da entidade. Isso aconteceu por meio do superfaturamento dos produtos e serviços contratados para os eventos, uso de notas inflacionadas e empresas de fachada.

Em nota, Milton Ferreira disse que a ONG foi indicada por uma comissão de eventos. O vereador afirmou que a responsabilidade de aprovar projetos e fiscalizar os eventos é da Secretaria de Cultura.

João Jorge disse o mesmo e afirmou ainda que não conhece a ONG.

– Na verdade a gente não manda emenda para ONG, né? Essa ong… Meninos do Brasil, se não me engano, deve prestar serviço para algumas dessas entidades que eu atendo. Nunca atendo a ONG Meninos do Brasil. Não é assim que funciona. Imagino que seja função da Secretaria de Cultura avaliar os parceiros.

– Não seria correto o senhor acompanhar a execução dessas emendas, ver o trabalho dessa ONG, antes de direcionar uma emenda?

– Não é meu papel determinar quem é que vai executar [a emenda]

Apesar de dizer que desconhece a ONG, João Jorge esteve nesses eventos. Tirou foto com os organizadores e fez discurso em cima do palco, junto com seus aliados, o deputado federal Vanderlei Macris e o estadual Cauê Macris. Os organizadores usaram as páginas dos eventos no Facebook para fazer campanha para os tucanos.

Em todas as peças de divulgação aparece o nome de João Jorge bem ao lado da logomarca da ONG. Além disso, em todos os processos há ofícios assinados por ele que deixam claro que os recursos estão sendo destinados para a entidade.

A Associação Jovens do Brasil repassou metade de todo dinheiro das emendas para a produtora Aioká e o Grupo Jovens do Brasil Comércio de Óleos. O grupo é registrado apenas como uma empresa de comércio varejista de alimentos, mas forneceu itens totalmente fora de sua área de atuação, como geradores de energia, palcos, banheiros químicos, medalhas, som, iluminação, brinquedos infláveis, material de divulgação e confecção de site. Tudo com preços muito acima dos praticados pelo mercado.

O presidente do Grupo Jovens do Brasil é Firmino Soares, pai do presidente da ONG, Sandro Ronaldo Soares. A sede da empresa, visitada pela reportagem, é um terreno abandonado há mais de dez anos. O local é apontado como endereço residencial de Sandro. A CBN também esteve na sede da ONG e conversou com Firmino.

– O Sandro está?

– Não, ele acabou de sair.

– Aqui é a sede da ONG?

– Eu não sei se é bem aqui. Eu não tô bem ligado nisso não.

– O senhor faz parte da ONG, né?

– Sim

– Mas não sabe onde é a sede?

– Não, isso é só com meu filho

A outra empresa, a Aioká, tem como presidente Priscila Gamarra, que também é diretora de eventos na ONG. Apesar de ser produtora, a Aioka realizou vários serviços fora de seu escopo, também com valores superfaturados.

Tudo isso é ilegal e fere e os termos de colaboração com a Secretaria de Cultura. Ao celebrar a parceria, os dirigentes da ONG declararam que não seriam remunerados ou receberiam qualquer vantagem.

A terceira entidade que mais recebeu recursos é a Prospect JL, uma empresa de dedetização, que, curiosamente, também fornece palcos, seguranças, bombeiros, alimentos e todos os itens para eventos. O endereço é uma casa simples em São Miguel Paulista, onde não funciona nenhuma empresa.

Após ser procurada, a prefeitura informou que Bruno Covas determinou a suspensão de pagamentos à ONG e a instauração imediata de um inquérito na Controladoria-Geral do Município. Já a ONG negou que tenha praticado irregularidades e argumentou que os projetos foram aprovados e fiscalizados pela secretaria.

João Jorge atuou em cargos menores nas gestões de Alckmin e Serra. Ganhou projeção no partido na eleição de João Doria à Prefeitura. Influente na Assembleia de Deus do Brás, ele fez a ponte de Doria com as igrejas. Em troca, foi conduzido à presidência do diretório sob tutela de Doria.

– Eu agora vou levantar essas emendas que eu fiz com a Cultura pra ver quem executou, os parceiros… O que eu vou fazer por ora é suspender qualquer tipo de ação com eles.

– O dinheiro que supostamente teria sido desviado por essa ONG não voltou para o senhor ou para campanha ou aconteceu isso?

– Não há a menor possibilidade disso. Que é isso! Pelo amor de Deus. É impensável qualquer coisa nesse sentido. Impensável.

Buffet de camarim a 5.000 reais por dia. 500 latas de spray para uma suposta ação de grafite, 10 mil panfletos para um evento que reuniu dezenas de pessoas. Na reportagem de amanhã, a CBN vai mostrar os itens que foram superfaturados e como as fraudes aconteceram.

Da CBN.