Ao tingir seus opositores de vermelho, Bolsonaro trabalha para esvaziar seus argumentos

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Jair Bolsonaro decidiu enfrentar as ruas. Dos EUA, ele disse que a maioria dos manifestantes que protestavam contra o congelamento de gastos na educação “não tem nada na cabeça”. “São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona”, atacou.

O presidente tenta confinar à esquerda a primeira grande mobilização contra seu governo. Para se blindar de desgastes, ele sugere que alunos e professores não têm motivo para reclamar de sua gestão. São só alvos de uma manipulação política por parte de seus adversários.

Bolsonaro nunca está errado. Se alguém se opõe ao decreto para facilitar o porte de armas, certamente é um militante que pretende cercear direitos do cidadão de bem para transformar o país numa Venezuela. Se um manifestante defende as universidades, deve ter feito estágio em Caracas para doutrinar estudantes. Reclamações sobre a extinção de conselhos públicos? Venezuela.

De certa maneira, Bolsonaro remodela a polarização que o ajudou a romper a bolha conservadora e consolidou sua vitória na eleição de 2018. O presidente busca desqualificar seus críticos ao vinculá-los aos interesses políticos da esquerda.

Na sabatina a que foi submetido na Câmara, o ministro Abraham Weintraub até conseguiu se esquivar de polêmicas maiores, mas fez questão de dizer que a culpa dos cortes era do PT: “O orçamento atual foi feito pelo governo de Dilma e Temer. Não somos responsáveis pelo desastre da educação, não votamos neles”.

Ao tingir seus opositores de vermelho, o governo trabalha para esvaziar seus argumentos. A politização cega da realidade, no entanto, não é capaz de apagar os fatos.

O método é especialmente arriscado no caso da educação. Bolsonaro resolveu encarar de frente um setor que transborda classes, regiões e preferências partidárias. Caso o bloqueio de gastos prejudique o funcionamento de laboratórios ou o fornecimento de água, não haverá coloração política que proteja o governo.

Da FSP