Bolsonaro tenta o grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo

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A chegada de um novo presidente ao Palácio do Planalto traz expectativas aos mais diversos grupos. Com Jair Bolsonaro (PSL) não foi diferente. Os maiores entusiastas, em um primeiro momento, eram os liberais na economia e os conservadores nos costumes.

Com sinais trocados, o presidente levou primeiro a pauta econômica ao Congresso, representada, até o momento, pela reforma da Previdência. Seu discurso, porém, focou no outro grupo que, com o passar dos meses, ganhou o título de “ala ideológica”, e tem como líder o professor de filosofia on-line Olavo de Carvalho.

Somado a essa troca inicial, Bolsonaro não quis ir para a arena do debate político. Com discurso reducionista, equalizou todos os deputados que não apoiavam o seu governo como parte da “velha política”. Nada de novo no front. Lula (PT), quando ocupou o mesmo cargo, usou o discurso de que “as elites” eram contra o “progresso”.

Mudaram os termos, não a lógica.

No caso petista, em vez de negociar com os partidos ligados à “elite”, construiu-se o mensalão. No caso de Bolsonaro, após manifestações de opositores e apoiadores – sem haver a possibilidade de encontrar vencedores – ele chamou os poderes para um grande pacto nacional. Ponto para o atual ocupante da vaga máxima do país.

O diagnóstico, no entanto, não é de hoje. Lá atrás, na época que Michel Temer (MDB) assumiu após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), o ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), em gravação feita por um ex-aliado, falava da necessidade de se construir “um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”.

Na fala do ex-senador e atual presidente nacional do MDB, Romero Jucá, o grande acordo envolveria dar um basta na operação Lava Jato e fazer avançar as reformas.  Com Bolsonaro, a ideia é neutralizar o Centrão e evitar a judicialização justamente das reformas.

Mudaram os objetivos, não a forma.

Para um deputado que, ao longo de 30 anos, ficou apenas no baixo clero, o acordo que Bolsonaro busca depende integralmente do alto clero da República. Interpretado por petistas, seria um acordo da “elite”. Nos olhos dos bolsonaristas, é “republicano” ou “nova política”.

O capitão da reserva chamou para dialogar os presidentes do Legislativo – Davi Alcolumbre, do Senado, e Rodrigo Maia, da Câmara – e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

Bolsonaro resolveu entrar na política e impressiona a presença do presidente do STF, que não faz política. Construiu-se o grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo.

Logo após a conversa que manteve com Bolsonaro, Rodrigo Maia reuniu-se com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e um grupo de deputados. Na ocasião, ele deu início a uma nova parte da sua estratégia para fazer avançar a reforma: conversar com os líderes informais da Câmara.

Guedes apresentou uma série de medidas que tem por objetivo destravar a economia. Além disso, foi criado um grupo de trabalho entre parlamentares para dar celeridade a essas medidas. Na saída da reunião, Maia disse que iria acelerar aprovação da Previdência.

“Precisamos caminhar para a pacificação e o Maia trabalha de acordo com isso”, relatou o deputado Marco Feliciano (Pode-SP), presente na reunião, aliado de Bolsonaro e uma das figuras mais reconhecidas da bancada evangélica – base de apoio dos “conservadores” nos costumes.

Bolsonaro, igualmente, começou a ceder. Na tarde desta terça-feira (28/05/2019), escreveu carta para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pedindo que a MP 870 fosse aprovada do jeito que chegou da Câmara, ou seja, com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) nas mãos de Paulo Guedes (Economia) e não de Sergio Moro (Justiça), como pregava.

O acordo já deu os seus primeiros passos.

Do Metrópoles