Covas prevê limites para grupos de corrida e retirada de ciclovia do Ibirapuera com privatização

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A gestão Bruno Covas (PSDB) publicou nesta quarta-feira (15) sua proposta de plano diretor do parque Ibirapuera, abrindo assim a fase de consulta pública sobre o projeto. Prefeitura, Ministério Público e o vereador Gilberto Natalini (PV) estabeleceram, mediante acordo na Justiça, que o plano diretor seria condição para que fosse realizada a concessão do Ibirapuera e outros cinco parques para a iniciativa privada.

O plano diretor estabelece diretrizes para a gestão do parque e para possíveis mudanças que venham a ser implementadas. A prefeitura receberá contribuições até 15 de junho, quando passará a elaborar uma versão final do plano, que terá que ser aprovada pelo Ministério Público e por Natalini.

Entre as principais novidades colocadas pela gestão Covas em sua proposta para o Ibirapuera estão a limitação de acesso de grupos com atividades comerciais, como assessorias esportivas e grupos de ioga, entre outros, e a definição da capacidade máxima de público em shows e eventos realizados no parque.

Além disso, estão determinadas a retirada definitiva da ciclovia infantil; a troca dos vidros das fachadas dos prédios da Bienal e do Museu Afro para evitar os constantes choques de pássaros; e a criação de espaços específicos para cachorros (um “cachorródromo”) e para a prática de slackline.  Algumas das medidas já haviam sido adiantadas pela prefeitura em reunião com conselheiros do parque e foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O plano diretor especifica que esses grupos externos —como as assessorias para grupos de corrida, por exemplo— interferem, muitas vezes, no espaço público, limitando o fluxo de outras pessoas ao transitarem em grande número ou ao estabeleceram divisórias para a prática de suas atividades. A prefeitura sugere, então, que eles passem a ocupar espaços previamente definidos e só possam atuar mediante autorização formal da administração do parque. Também é sugerido o teto de 250 pessoas para cada um desses grupos, que só poderiam se reunir entre 6h e 19h.

No caso de shows e outros eventos com grande presença de pessoas, a prefeitura apresentou limites de público diferentes para as diversas áreas do parque. Na marquise, por exemplo, apenas 250 pessoas serão permitidas por evento. Em espaços abertos, como no entorno do auditório, o limite deverá ser de 15 mil.

A ciclovia infantil que deverá ser demolida já foi alvo de polêmica na gestão tucana. Em setembro de 2017 foi instalada uma placa ao lado da ciclovia em que dizia que ela seria retirada. Havia, na placa, o logo da empresa de material esportivo Nike, que negou qualquer envolvimento com a exclusão do equipamento —a multinacional custeou, na verdade, a reforma de um campo de futebol na área.

À época, a prefeitura disse que a placa tinha texto incorreto, não era oficial e seria removida. Afirmou também que a ciclovia não seria retirada, mas passaria por reformulação que não afetaria seu uso.

Agora a prefeitura afirma, na proposta de plano diretor, que a área é atualmente subutilizada. “Em 2017 parte de sua pavimentação foi removida como contrapartida ao termo de cooperação com a Nike para o campo de futebol”, diz o texto. Sendo assim, é recomendada sua demolição e a permeabilização da área.

A Construcap, empreiteira arrolada na Lava Jato, foi a vencedora da licitação do Ibirapuera, com a proposta de R$ 70,5 milhões. Ela deverá administrar o Ibirapuera e cinco outros parques pelo período de 35 anos a contar da assinatura do contrato —que só acontecerá após a publicação da versão final do plano diretor, acordada entre prefeitura, Ministério Público e o vereador Natalini.

Para rentabilizar sua operação ela poderá, além de realizar eventos, instalar diversos serviços comerciais em diferentes locais do parque. O plano diretor estabelece, por exemplo, a possibilidade de implantação de serviços de alimentação na Oca, no Pavilhão de Cultura Brasileira, no prédio da Bienal, entre outros.

Natalini diz que o edital tem bons parâmetros, de modo geral, mas ele acredita que precisa ser mais rigoroso em suas limitações. Para o vereador, os limites de público para shows precisam ser mais estreitos e a lista de atividades proibidas (construção de autódromo, teleférico, parque de diversões, hípica, pedalinhos, tirolesa sobre o lago, realização de raves) precisa ser ampliada.

“É um projeto que respeita, sim, a ideia de manter os serviços ambientais do parque, como queríamos. Mas acho que os shows ainda podem prejudicar a fauna do parque com o barulho”, afirma.

Thobias Furtado, diretor presidente da Parque Ibirapuera Conservação, organização sem fins lucrativos que desenvolve atividades de melhoria do parque, viu o projeto da prefeitura como excessivamente genérico.

“Ter um masterplan bem feito para o parque é o sonho de muitos há décadas, mas o que foi apresentado hoje não só não é uma construção do amplo desejo dos usuários e especialistas como não é de fato um plano diretor de parque. Basta comparar com meia dúzia dos planos diretores dos maiores parques urbanos do mundo. Não especifica nada, não detalha nada, não garante quase nada. Parece mais uma apresentação de venda do edital”, afirma. “Isso não é plano de nada.”

Da FSP