Dificuldades do governo impactam na economia brasileira, que ainda vai mal

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Com queda disseminada em praticamente todos os segmentos, a produção industrial no país despencou em março, comprometendo o resultado do crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre sob o governo Jair Bolsonaro (PSL).

Para economistas, as dificuldades em aprovar as reformas e trazer de volta a confiança de investidores e consumidores tiveram impacto sobre o comportamento da demanda interna, que vem sendo insuficiente para compensar a queda nas exportações.

A produção industrial em março caiu 1,3%, na comparação com fevereiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a queda é de 6,1% –a maior desde a paralisação dos caminhoneiros.

Esse último dado carrega um efeito do Carnaval, que tirou do mês passado dois dias úteis. Porém, mesmo com ajustes sazonais, a queda seria de 3,1%. No trimestre, a indústria brasileira recuou 0,7% na comparação com 2018 e 2,2% em relação a março de 2018— o pior resultado desde o quarto trimestre de 2016.

Após a divulgação dos dados, economistas passaram a rever suas projeções para o desempenho da economia em 2018. Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX, já vê o PIB do primeiro trimestre em queda de 0,2%, ante alta de 0,1% na projeção anterior.

“A queda [da indústria em março] foi generalizada e reflete uma atividade que encontra grande dificuldade para acelerar”, diz ela. Srour reduziu sua estimativa de alta do PIB de 1,5% para 1,3%.

Dos 26 grupos analisados pelo IBGE, 16 apresentaram recuo em relação a fevereiro. Na comparação com março, foram 22. Segundo o instituto, 56,9% dos 805 produtos pesquisados registraram queda nessa comparação.

O desempenho reflete efeitos pontuais, como a crise argentina e a paralisação de operações da Vale após a tragédia de Brumadinho, mas também mostra que o mercado interno não consegue reagir ao desemprego e à falta de confiança para investir.

No trimestre, os setores que mais contribuíram com a queda foram as indústrias de produtos alimentícios (-4,9%), veículos automotores (-3,2%) e derivados de petróleo e biocombustíveis (-2,7%).

O primeiro e o terceiro estão ligados ao consumo interno, enquanto a produção de veículos no país vinha sendo sustentada por importações da Argentina. A indústria extrativa, impactada pela crise da Vale, caiu 1,7% no mês.

É da indústria extrativa a maior contribuição para a queda acumulada no trimestre (-7,5%), seguida por equipamentos de informática, produtos eletrônicos e óticos (-13%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,6%), máquinas e equipamentos (4,6%0 e alimentos (-1,4%), entre outros.

Três das quatro grandes categorias econômicas registraram recuo em março, na comparação com o mês anterior: bens intermediários (-1,5%), bens de consumo duráveis (-1,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (-1,1%). A única taxa positiva se deu na produção de bens de capital (0,4%). Na comparação trimestral, nenhuma teve alta.

Com o recuo de março, a indústria brasileira acumula queda de 0,1% nos últimos 12 meses. “Se a gente pensar nesses últimos 12 meses, que eram para ser meses de recuperação, a gente está no mesmo ponto de um ano atrás. A indústria brasileira recuou um ano”, comentou o economista da RC Consultores Everton Carneiro.

Em março, a produção da indústria brasileira atingiu o mesmo patamar de janeiro de 2009, recuando dois meses em relação ao verificado em fevereiro. O indicador está 17,6% abaixo do pico registrado em maio de 2011.

“A grande realidade é que a indústria como um todo já vem numa trajetória descendente desde o segundo semestre do ano passado”, comentou o gerente da pesquisa, André Macedo. “Dado que a gente observa em todos esses indicadores uma trajetória descendente, neste momento, a gente está longe de enxergar uma melhora.”

Dados compilados pela consultoria IHS Markit mostram que, de fato, a situação não melhorou em abril. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pela consultoria, teve no mês o resultado mais fraco em seis meses.

Já a confiança do investidor permanece em ritmo lento: de acordo com sondagem realizada pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a confiança do empresário da indústria cresceu apenas 0,7 ponto em abril, na comparação com março, ritmo considerado “discreto”.

“A demanda interna poderia substituir essa fraqueza no cenário externo se não houvesse tanta incerteza”, analisa Srour, que critica a demora do governo para aprovar reformas no Congresso. “O atraso provocado pela falta de articulação política está atrasando a retomada da atividade.”

A indústria extrativa permanece sentindo os efeitos da tragédia em Brumadinho (MG) e recuou 1,7% no mês, na comparação com fevereiro. No primeiro trimestre, a produção do setor acumula queda de 17,6%.

O rompimento da barragem Córrego do Fundão levou autoridades a decretar a suspensão de operações em diversas barragens mineiras, com impacto sobre a produção de minério de ferro.

“Não por acaso, na comparação com março de 2018 ou entre os primeiros trimestres, a indústria extrativa tem a maior influência negativa”, disse o gerente do IBGE.

RAFAEL CALEGARI
Sem dúvida, essas reformas podem baratear o o custo do nosso produto industrializado, devido à abundância de mão-de-obra barata e a concorrência entre os trabalhadores, se aprovadas. Mas, se a carga tributária não baixar, isso será insuficiente para exportá-lo ao seu consumidor final. A redução tributária, que é a parte mais sensível do projeto guedista (pois se não estiver no projeto, não funciona), deve vir antes, pois é a garantia de sucesso da agenda. Afinal as outras reformas não têm volta.

Da FSP