Estudantes de escolas particulares marcam presença em ato

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Protegendo-se da chuva em uma banca da avenida Paulista, quatro amigas que estudam no colégio Oswald de Andrade estavam duplamente preocupadas na manifestação desta quarta-feira. Primeiro, com a política em geral do governo Bolsonaro para a educação; depois, porque todas pretendem fazer faculdade de humanas.

“É principalmente essa área que ele não quer desenvolver, para que as pessoas não tenham tantas possibilidades de pensar e de se expressar”, disse Lara Fernandes, 14. “As humanas dão espaço para diferentes opiniões, formam o olhar das pessoas”, opina Clara Santi. “E é justamente isso que o governo não quer”, fala Clarice Romeu, 15.

Pai de Clara, Pedro, 53, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), foi encontrar as meninas na Paulista. “Elas vieram sozinhas, mas vim como ‘backup’, para ver se estava tudo bem, e aproveitei também para participar, porque a educação é um tema sem partido e pode ser por aí que o país se unifique”, afirma.

O grupo contou que essas questões foram discutidas no Oswald, colégio particular da zona oeste de São Paulo, principalmente pelo grêmio estudantil, e que alunos e professores votaram pelo cancelamento das aulas nesta quarta para apoiar a manifestação.

Mas a avenida reuniu também estudantes de escolas particulares que não aderiram ao protesto, entre eles um grupo do Singular, de São Bernardo do Campo (região do ABC).

Matheus Ballester e a namorada, Ana Beatriz Ayumi Yokoya, ambos de 17 anos e alunos do 3º ano do ensino médio, assistiram às aulas pela manhã e depois se juntaram a amigos para ir à manifestação. “Mesmo que a gente possa estudar em uma escola particular, temos que vir e defender a educação do país”, diz Ana, que, como o namorado, vai prestar vestibular para medicina. “O governo Bolsonaro demonstra traços de totalitarismo e quer limitar a educação para que as pessoas não reconheçam esses traços. Limitar a educação é limitar o futuro”, afirma Matheus.

Amiga do casal e também aspirante à medicina, Raquel de Oliveira Franco, 17, diz que é “grata pelo privilégio de estudar em uma escola particular”, mas que precisa “lutar para que a massa tenha um ensino de qualidade”. “Não é fácil para a minha família pagar a escola e sei como é difícil entrar em uma faculdade pública. Tenho que lutar pelo Brasil.”

Cerca de 50 alunos do cursinho Anglo da Tamandaré, na Liberdade (região central), estavam na avenida, apreensivos com a situação das faculdades em que pretendem ingressar. “Quero ser jornalista, mas me preocupo com os cortes em geral. Estão cortando pesquisas que desenvolvem vacinas”, afirma Danilo Cavalcante, 18.

Roberta Lara, 17, do 3º ano do ensino médio do Objetivo Tatuapé (zona leste), pensa em estudar ciências sociais, justamente a área que Bolsonaro defende não ser tão importante. “Ele está priorizando as coisas erradas, aula de tiros para adolescentes em vez de educação”, afirma a menina, acompanhada de 12 amigos da escola.

Professora de duas escolas da elite econômica que não cancelaram as aulas, uma no Itaim Bibi (zona sul) e outra em Alphaville, Soraia Namorado, 40, deu aulas pela manhã e à tarde foi com os dois filhos à Paulista. Davi, 12, e Murilo Torres, 9, estudam na escola do Itaim em que a mãe trabalha, e disseram que ela os convenceu a ir ao protesto.

“É importante que eles entendam o movimento, e eu, como professora, preciso defender a educação”. Apesar da aglomeração e da chuva, os meninos gostaram da experiência. “É legal porque mostramos a nossa opinião, mostramos para os políticos que estamos insatisfeitos”, avalia Davi. O caçula endossa: “Acho a mesma coisa que o Davi. E também gostei de ver como essa avenida é espaçosa”.

A adesão de escolas particulares à paralisação desta quarta-feira (16) dividiu familiares de alunos no Rio de Janeiro. No Colégio Santo Agostinho, no Leblon, um pequeno grupo de pais fez um protesto em frente à escola contra a decisão dos professores de participar dos protestos.

“Lugar de aluno é na escola” e “Professor, pare de usar a sua influência para doutrinar” eram algumas das inscrições dos cartazes. Nas redes sociais, também houve críticas à adesão da Escola Corcovado, em Botafogo. Por outro lado, o Colégio Santo Inácio, também na zona sul, recebeu críticas de parte dos pais e ex-alunos pela decisão de não participar da mobilização.

De Folha de SP