‘Não construiremos o caminho para a paz pela força das armas’, diz presidente da CNBB

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Eleito no dia 6 de maio novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante a 57.ª Assembleia-Geral do Episcopado, em Aparecida (SP), o arcebispo de Belo Horizonte, d. Walmor Oliveira de Azevedo, afirmou ao Estado que o “caminho da paz” não será construído “pela força das armas”, mas pelo diálogo e pela educação. “Tememos o que pode acontecer numa sociedade cheia de polarizações”, disse, sobre o decreto presidencial que flexibilizou a posse e o porte de armas.

No início deste mês, dias após ser eleito, d. Walmor, ao anunciar as metas para a próxima gestão da CNBB, já havia dito que esperança, diálogo e disposição para enfrentar e vencer as dificuldades são alguns dos principais itens do programa do episcopado para os próximos quatro anos.

Questionado sobre o governo Jair Bolsonaro, o presidente da CNBB defendeu a importância de uma atuação da Igreja “sem ser partidária”. “Diálogo para ouvir e ser ouvido, para poder dizer o que a Igreja tem a dizer para além de qualquer tipo de ideologia ou partidarização”, declarou d. Walmor, baiano da cidade de Cocos. Doutor em teologia dogmática, ele foi transferido para Belo Horizonte em 2004.

Relação com o governo

“O ponto de partida da relação com o governo federal é o diálogo, com todas as instâncias, assim como a sociedade. Diálogo para ouvir e ser ouvido, para poder dizer o que a Igreja tem a dizer para além de qualquer tipo de ideologia ou partidarização. O que a Igreja tem a dizer pela força da reserva que ela tem a partir da sua própria fé. Que é uma iluminação que considero da mais alta importância para encontrar novas respostas.”

Dupla função

“Dou graças a Deus de ser chamado para esse serviço na CNBB depois de uma bela e consolidada trajetória, de 15 anos de experiência aqui. Portanto, somos uma equipe de bispos e colaboradores, que, sem abandonar esse serviço, me dão condições de poder, de fato, fazer também o da CNBB. Digo com gratidão e confiança e com a certeza de que poderemos fazer um caminho fecundo.”

Sínodo da Amazônia

“Os bispos da região amazônica prepararam muitos elementos. Eles foram trabalhados num documento que ainda receberemos. De qualquer modo, o grande foco importante é a evangelização. E é a Igreja presente na Amazônia levando o evangelho de Jesus Cristo para ser assimilado, desdobrado, com consequências para uma vida melhor.”

Amazônia x áreas urbanas

“Temos trabalhado muito a questão das áreas urbanas. Uma das nossas diretrizes gerais para evangelização do Brasil tem sido evangelizar num Brasil cada vez mais urbano. Isso já enfrentamos. A Amazônia se torna prioridade exatamente pela importância e complexidade e por tudo aquilo que a Igreja precisa fazer de evangelização na região.”

Industrialização x meio ambiente

“É preocupação fundamental. Temos um riquíssimo horizonte na carta encíclica do papa Francisco, do cuidado com a casa comum. Vemos isso em geral, em todo o Brasil. Em Minas Gerais, vemos isso como uma consequência muito terrível pelo modo como se fez, exatamente em razão da ganância, do lucro, da idolatria do dinheiro, consequências muito desastrosas. O caso de Brumadinho, por exemplo, mas também pelo Brasil afora. É preocupação fundamental. Por isso temos um grupo de trabalho para problemas ambientais que vai avançar para tratar questões de ecologia e desenvolvimento integral. Afinal, Deus é um Deus da criação.”

Desemprego

“Este é tema muito importante. Particularmente, quando se constatam cenários de pobreza e miséria. Isso nos aflige e inclusive deve nos envergonhar, exigindo de nós que encontremos novos caminhos. Compreendendo e conscientes de que estamos num contexto de crise econômica, não só no Brasil, mas num contexto mais amplo. Porém, há exigência e urgência de novas respostas. Há gente passando necessidade, sem moradia, sem saúde. E, portanto, a dignidade da pessoa humana que tem de ser respeitada desde o primeiro momento, desde a fecundação até a morte natural. São etapas sagradas, que precisam ser bem tratadas. A Igreja, sem ser partidária, sem mover-se por  ideologias, está para dialogar com seu patrimônio para uma compreensão que nos dê saídas, novas respostas. Nos aflige muito. Mas sempre respeitando as competências das instâncias que têm a tarefa de resolver esse problema.”

Armas

“Respondo em primeiro lugar que a nossa opção é por uma arma única que nós temos que é o amor. Não compreendemos que o caminho para a paz, para a solidariedade, se vá construir pela força das armas. Nós construiremos pela força da educação, do diálogo, do amor. A Igreja tem tarefa importante neste contexto. Com oportunidade a todos. Não é para nós a opção de dizer que vamos trabalhar mais a paz exatamente com uso de armas. Pelo contrário. Tememos o que pode acontecer numa sociedade cheia de polarizações, com a necessidade maior de solidariedade.”

Cortes na Educação

“A justificativa dada é de otimização de recursos. Mas a Educação não pode sofrer cortes de modo que, por exemplo, a pesquisa pare. Não se pode cortar de modo que a educação de base não seja qualificada. É preciso de muito discernimento para se cortar para não se ter prejuízos não só hoje, mas nas gerações futuras.”

Do Estadão