Relatório sobre o meio ambiente joga na nossa cara: estamos totalmente ferrados

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De acordo com o maior inventário da biodiversidade já feito, um milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção por causa dos seres humanos.

Ecossistemas e populações selvagens estão diminuindo a uma velocidade nunca antes vista no mundo todo, e a ganância humana é o principal impulsionador dessa destruição.

Obviamente, é um tiro no próprio pé que pode levar à destruição da própria civilização.

E, de acordo com a compreensiva avaliação global feita pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), um painel de especialistas da ONU, essas tendências extremamente prejudiciais só podem ser interrompidas com uma “mudança transformadora” em TODOS os aspectos de como os seres humanos interagem com a natureza.

O estudo levou três anos e foi compilado por quase 500 cientistas. Suas 1.800 páginas analisam cerca de 15.000 estudos acadêmicos que se debruçaram sobre tudo, de plâncton e peixes a abelhas, corais, florestas, sapos e insetos, além de aproveitar o conhecimento indígena.

O relatório será publicado na íntegra até o final deste ano. Por enquanto, apenas um breve resumo de 40 páginas sobre suas conclusões foi divulgado (você pode conferir algumas delas logo abaixo).

“A teia essencial e interconectada da vida na Terra está ficando menor e cada vez mais desgastada. Essa perda é um resultado direto da atividade humana e constitui uma ameaça direta ao bem-estar humano em todas as regiões do mundo”, disse o professor Josef Settele, ecologista e um dos autores do relatório.

Essa avaliação global do IPBES foi acordada por 132 países, o que significa que pode servir de base para a reunião sobre o clima em 2020 na China, onde as nações decidirão ações e novas metas a serem adotadas. Infelizmente, quase nenhuma das 20 metas previamente estabelecidas para 2020 será alcançada, de acordo com um resumo preliminar do relatório obtido pela agência AFP.

Entre algumas das descobertas e conclusões do relatório, estão:

  • As áreas urbanas mais do que dobraram de tamanho desde 1992 e 100 milhões de hectares de floresta tropical foram perdidos de 1980 a 2000, principalmente devido à pecuária na América do Sul e plantações de óleo de palma no sudeste da Ásia;
  • Cerca de 25% das espécies de animais e plantas estão ameaçadas, e cerca de 1 milhão de espécies já estão em processo de extinção, muitas delas em décadas, se nenhuma ação for tomada;
  • A taxa atual de extinção de espécies é pelo menos dezenas a centenas de vezes maior do que a média dos últimos 10 milhões de anos;
  • Quase metade da cobertura de corais vivos nos recifes foi perdida desde a década de 1870, com perdas nas últimas décadas acelerando devido à mudança climática;
  • Dois terços dos oceanos estão sob estresse e mais de 85% da área de zonas úmidas foi perdida;
  • A frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos aumentaram nos últimos 50 anos, enquanto a média global do nível do mar aumentou entre 15 e 20 centímetros desde 1900;
  • A mudança climática se tornará cada vez mais importante como um impulsionador direto de mudanças na natureza;
  • Os solos estão sendo degradados como nunca antes. Isso reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre do planeta;
  • A poluição plástica aumentou dez vezes desde 1980;
  • Todos os anos despejamos de 300 a 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lodo tóxico e outros resíduos nas águas do mundo;
  • Existem cerca de 2.500 conflitos sobre combustíveis fósseis, água, alimentos e terras atualmente ocorrendo em todo o mundo.

A escala e a velocidade rápida do declínio da natureza são sem precedentes na história da humanidade e devem continuar por pelo menos 50 anos.

Nós, bem como a vida selvagem e as gerações futuras, estamos todos em risco, a menos que sejam tomadas medidas urgentes para reverter a perda de plantas, insetos e outras criaturas das quais a humanidade depende para alimentos, polinização, água limpa e um clima estável.

Para isso, governos, empresas e indivíduos precisam trabalhar juntos e com urgência. O objetivo dos cientistas é persuadir um público maior para além das habituais ONGs e departamentos governamentais.

“Precisamos apelar não apenas aos ministros do meio ambiente, mas também aos responsáveis ​​pela agricultura, transporte e energia, porque eles são os responsáveis ​​pelos impulsionadores da perda da biodiversidade”, disse Robert Watson, presidente da IPBES. “Há um reconhecimento agora que a biodiversidade é uma questão ambiental, mas também é sobre economia e desenvolvimento. Temos que reformar o sistema econômico”, esclarece.

Enquanto a proteção de espécies e áreas individuais é importante, observar os impulsionadores sistêmicos da mudança, incluindo o consumo e o comércio, é igualmente essencial. Isso exigirá um esforço mundial conjunto para mudar a maneira como vivemos.

Entre os fatores indiretos mais polêmicos que influenciam na perda da biodiversidade estão o aumento da população mundial, que dobrou desde 1970 (de 3,7 bilhões para 7,6 bilhões de pessoas), o aumento de dez vezes no comércio global nas últimas cinco décadas, a quantidade de bens que as pessoas compram nos países ricos e a busca incessante do crescimento econômico, que gera subsídios prejudiciais e o crescimento acentuado de novas tecnologias que demandam muitos recursos naturais.

Um dos principais autores do novo relatório, o professor da Universidade de British Columbia (Canadá) Kai Chan, defende que o sistema atual de proteção ambiental não funciona bem o suficiente e que os governos precisam rever a ideia de deixar o mercado se regular – precisamos na verdade controlar esse mercado que pode acabar nos destruindo.

“Também devemos nos concentrar nas cadeias de suprimentos. Atualmente, a natureza é prejudicada toda vez que compramos algo através das matérias-primas utilizadas ou da maneira como os bens são produzidos”, argumentou.

Do Hyperscience