Será que a deputada Tabata Amaral derruba mais um ministro da Educação?

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No fim de março, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) fez uma série de perguntas ao então ministro da Educação, Vélez Rodríguez, que turbinaram seu número de seguidores e fãs. “Onde estão os projetos, as metas, quem são os responsáveis?”, cobrou. Nesta quarta-feira, em que o atual ministro, Abraham Weintraub, estava no plenário da Câmara dos Deputados, a expectativa era alta sobre o que ela iria dizer. Reservada, ela não vaiou nem aplaudiu os demais discursos. Revisou o que iria falar e trocou interações breves com outros políticos ao longo do dia.

Antes do discurso, colegas a interpelavam nos corredores para pedir sua opinião sobre a sabatina, que se arrastava por horas. Ela dizia que estava triste e um pouco decepcionada com o nível do debate. Como esperado, a oposição esbravejava contra o governo e bolsonaristas defendiam o ministro, com algumas trocas de ofensas. Gritos interrompiam os discursos. Quando a jovem de 25 anos subiu na tribuna, porém, todos ficaram em silêncio.

“São tantos absurdos, tantas arbitrariedades. A primeira delas é dizer que há uma concentração nas [ciências] humanas. Não é verdade, ministro. Apenas 1,4% da verba do CNPq vai para as ciências sociais. Apenas 23,7% das bolsas da Capes vão para humanas e ciências aplicadas. O segundo absurdo é cortar de três universidades que têm um bom desempenho e falar que é por balbúrdia”, disse a deputada.

“Logo se diz que o corte, na verdade, é para destinar para educação básica, mas vemos mais uma mentira. Até agora, já foram R$ 914 milhões [bloqueados], impactando também educação infantil e creches. O senhor é um gestor e, em vez de ficar aí veiculando vídeos falsos de outros países, deveria fazer uma pesquisa para mostrar se há abusos, se há excessos, e como a gente deveria lidar com eles. em sua apresentação, falou que a prioridade é o ensino técnico. Então como cortar dos IFs [institutos federais], ao invés de apoiá-los?”, continuou.

“O senhor é um ministro de Estado hoje. Não pode vir aqui dessa maneira, sem nenhum critério técnico, baseado em ideologia, e travar essa guerra ideológica, essa cruzada contra o que o governo chama de marxismo cultural, que não existe. O senhor entrou no ministério com três meses e meio de atrasos, polêmicas, desmandos, paralisia, não há tempo. Tem de falar de Enem, Fundeb, formação de professores e sair dessa guerra ideológica. A educação nas universidades não é um projeto de um único partido, é um projeto de nação.”

A ÉPOCA, ela contou que deputados de todo o espectro ideológico esperavam que ela injetasse um pouco de bom senso na discussão. “Vários deputados vieram até mim, da oposição, do governo e do próprio PSL, dizendo ‘olha, fala alguma coisa que fuja um pouco (da polarização), por favor?’. Porque eles têm que cumprir o papel deles, mas queriam falar de educação.”

Em tom de brincadeira, alguns vieram lhe perguntar se ela ia derrubar mais um ministro. “Eu falei que não, porque aí vem o próprio Olavo de Carvalho depois, está só piorando com essas demissões”, brincou. “A frustração que tinha com o Vélez no caso dele é uma preocupação real. Nesse momento, eu não consigo só ficar brava, eu fico triste pelo que está acontecendo. Foi um dia mais de tristeza do que de raiva.” Segundo ela, a grande vitória do dia está nas ruas, nas manifestações em prol da educação que tomaram o país.

Criteriosa, até revisou seu discurso: tirou uma referência a “cavaleiros templários”, ordem de guerreiros católicos na Idade Média, e trocou por “cruzada”. “Fiz um teste e ninguém sabia o que eram cavaleiros templários”, comentou. Apesar da intenção de ser o mais propositiva possível, porém, foi impossível não antagonizar com o ministro. Ele disse, em resposta à pergunta de Tabata, que a convocou para uma reunião e ela o ignorou. Ela treplicou que era mentira, e então o ministro pediu que um assessor listasse todos os convidados ao MEC, em que, segundo ele, se inclui Tabata.

“Vou fornecer os documentos com os convites. Pode ser que não tenha chegado a senhora, pode ser que não tenha chegado a sua assessoria. Mas nós queremos a senhora para discutir”, disse o ministro.

Tabata espera que, quando Weintraub fale à Comissão de Educação da Câmara, o nível melhore. “A decisão de fazer esse evento foi política. Não foram razões educacionais, foi a briga do centrão com o governo, então eu acho que isso já deu um pouco do tom”, lamentou. “Não é o ambiente para discutir projetos. Ninguém está prestando atenção, nenhum deputado está ouvindo o que ele [ministro] está falando. É uma conversa de gente doida.”

Da Época