Trump veta acesso do Congresso a relatório que investiga apoio da Rússia à campanha dele

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O presidente dos EUA, Donald Trump, vetou nesta quarta-feira (8) a entrega ao Congresso da versão completa do relatório que investiga a suspeita de que a Rússia ajudou sua campanha, invocando pela primeira vez o “privilégio executivo” que lhe permite reter informações, aumentando assim as tensões com seus opositores democratas.

A Casa Branca procura manter em sigilo grande parte da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016, realizada a pedido dos parlamentares.

O anúncio da decisão da Casa Branca de apelar à autoridade presidencial para reservar a divulgação de informações ocorreu justamente no início de uma audiência na Câmara dos Deputados para iniciar o processo de desacato contra o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, por se recusar a entregar o relatório completo e as evidências que o acompanham.

“Os americanos veem claramente que as manobras desesperadas do presidente [do Comitê Judiciário da Câmara dos Deputados, o democrata] Jerry Nalder, apontam para desviar das realizações bem-sucedidas do presidente”, disse a porta-voz de Trump, Sarah Sanders.

“Nem a Casa Branca nem o procurador-geral Barr cumprirão com os pedidos ilegais e imprudentes de Nadler”, acrescentou.

O assistente do procurador-geral Stephen Boyd escreveu aos legisladores que Trump havia “declarado o privilégio executivo sobre todos os materiais requeridos”.

A tentativa de Nadler de submeter Barr a um julgamento de desacato havia “terminado” com as negociações em andamento sobre documentos que o Congresso poderia ver da investigação de Mueller, apontou.

Nadler  denunciou a iniciativa “sem precedentes” da Casa Branca e pediu a todos os legisladores que reajam em nome das “instituições”.

“Ninguém, nem o procurador-geral, nem o presidente, pode estar acima da lei”, disse ele, sugerindo que o governo Trump desafia “os deveres constitucionais do Congresso”.

Barr, que assumiu o cargo de procurador-geral em meados de fevereiro, ignorou uma intimação do Comitê Judiciário da Câmara para entregar uma cópia completa do relatório Mueller e todas as provas, e na semana passada recusou-se a depor perante o painel.

Os democratas apresentaram o embate com a Casa Branca como uma crise constitucional, e alguns pedem um processo de impeachment contra Trump, enquanto o governo acusa os democratas de tentar derrubar o presidente.

Trump “tenta demolir a Constituição dos Estados Unidos”, disse a parlamentar democrata Sheila Jackson Lee, membro do Comitê Judiciário, classificando o comportamento da Casa Branca como “absolutamente ilegal”.

Trump fez críticas no Twitter, questionando a investigação de dois anos de Mueller, cujo relatório, segundo o presidente, exonerou-o de qualquer crime. “ENGANO TRAIÇOEIRO!”, tuitou Trump, recorrendo a uma de suas expressões favoritas para dizer que a investigação foi injustificada e iniciada como um golpe político por parte de seus opositores.

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a principal líder democrata no Congresso, expressou seu apoio ao movimento de desacato contra Barr, com o objetivo de responsabilizar Trump e seu círculo interno.

“Acho que o procurador-geral deveria ser considerado em desacato”, disse Pelosi em uma conferência em Washington.

O comitê submeteu a debate o relatório de 27 páginas, no qual Nadler escreveu que o que se sabe sobre o relatório de Mueller: “oferece evidências perturbadoras de que o presidente Trump se envolveu em uma obstrução à justiça nos níveis mais altos”.

Barr disse que Trump estava livre de conspiração com a Rússia e obstrução de justiça logo depois que Mueller submeteu seu relatório de 448 páginas ao Departamento de Justiça em março.

Os democratas protestaram, alegando que Barr tentou proteger o presidente recusando-se a apresentar o relatório completo e suas evidências ao Congresso.

O embate político se desenvolveu em múltiplas frentes. A Casa Branca rejeitou formalmente esta semana um pedido dos democratas para entregar as declarações fiscais de Trump, estabelecendo as bases para o que provavelmente será uma batalha judicial prolongada.

E na terça-feira, o governo ordenou que o controlador da Casa Branca, Don McGahn, uma figura-chave no relatório de Mueller, retivesse os documentos solicitados pelo comitê judicial do Congresso.

Da FSP