Militares não gostaram nem um pouco da demissão de Santos Cruz do governo Bolsonaro

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A decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz de seu Ministério incomodou militares de alta patente que integram o governo. A medida foi interpretada como um recado do chefe do Executivo sobre a relação que manterá com esse grupo daqui para frente. Ainda na visão desses militares, a demissão piorou a maneira como o governo é visto pelas Forças Armadas. Nas palavras de um general ouvido pelo GLOBO, sob a condição de anonimato, Bolsonaro “sabe muito bem o quanto admiramos o chefe militar que é Santos Cruz”.

O general da reserva perdeu o cargo de ministro da Secretaria de Governo na última quinta-feira, depois de protagonizar um duro embate com o ideólogo de direita Olavo de Carvalho. Em uma reunião no Palácio do Planalto, foi avisado que estava demitido.

O gesto foi executado pelo presidente com a indicação do substituto já engatilhada: o general da ativa Luiz Eduardo Ramos, chefe do Comando Militar do Sudeste. Ramos é muito próximo de Bolsonaro e, a exemplo de Santos Cruz, é crítico dos pensamentos e da postura radical e conflitiva de Olavo de Carvalho.

— Qualquer demissão no nível ministerial é uma mensagem ruim para todos os segmentos da sociedade. A de uma pessoa querida como Santos Cruz tem de ser lamentada —diz um dos generais ouvidos pela reportagem.

Santos Cruz foi para a reserva do Exército depois de chegar a general de divisão — uma patente intermediária, de três estrelas. Ramos, por sua vez, segue na ativa, como general do Exército —a mais alta patente, de quatro estrelas. Os dois têm perfis muito distintos. O primeiro é sisudo e mais reservado. O segundo, piadista e familiar ao universo político por ter exercido a função de assessor parlamentar do Exército em Brasília.

Amigo do presidente, Ramos é considerado escolha pessoal de Bolsonaro, e não uma indicação dos generais que estão no Planalto. Sempre frequentaram as casas um do outro, hábito mantido com Bolsonaro já na Presidência. Os dois se conhecem há 46 anos. Fizeram juntos a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, e foram contemporâneos na Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), apesar de serem de turmas distintas — Bolsonaro é da turma de 1977, Ramos, da turma de 1979.

Santos Cruz sempre teve mais admiração dentro do Exército, em especial por sua atuação em missões internacionais, como no Haiti e no Congo.

Apesar de lamentarem a demissão de Santos Cruz, militares que seguem no governo dizem que houve a necessidade, por parte de Bolsonaro de “afinar” a equipe. As divergências passaram a ser notórias e sucessivas, especialmente os embates com a ala ideológica.

Um segundo militar ouvido pelo GLOBO, também integrante do governo e também na condição de anonimato, se diz satisfeito com o substituto:

— General Ramos tem um bom trato com todos. Teve, por exemplo, papel fundamental na resolução da greve dos caminhoneiros no ano passado, coordenando forças policiais.

Gota d’água – Este militar ouvido pela reportagem cita o trecho de uma música de Chico Buarque, “Gota D’Água”, para resumir o que ocorreu com Santos Cruz: “E qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota d’água.”

— O embate com Olavo existiu, gerou um desgaste e desgastes foram se acumulando. Bolsonaro precisa de um time forte, com gente alinhada —afirma.

Como o general Ramos é da cota pessoal, outro interlocutor da ala militar enxerga, na atitude de Bolsonaro, a intenção de mostrar aos militares que ele os quer no governo, mas que quem manda é o presidente.

De O Globo