‘O Brasil é o país mais racista do mundo’, diz Elza Soares em festival

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O grupo Ilú Obá de Min fez um dos principais shows no primeiro dia do festival Forró da Lua Cheia, nesta quinta (20), em Altinópolis (SP). Composto por mulheres, um dos principais blocos do Carnaval de São Paulo contou com a participação de Elza Soares para uma apresentação colorida, harmônica e que tocou em temas sensíveis como racismo, feminicídio e intolerância religiosa.

“O Brasil é o país mais racista do mundo”, diz Elza Soares ao Lineup em entrevista no camarim após o show. “Eu nasci negra. Eu confirmo, é o mais racista. Sou neta, bisneta de escravos. Minha mãe ainda pegou um pouco da escravatura. Para mim é tão recente minha mãe ter passado por isso.”

A cantora de 89 anos afirma que o Brasil tem melhorado, mas lamenta ainda haver muito preconceito. “Um país mestiço, um país de mistura, um país maravilhoso, mas é tão preconceituoso, que é uma pena.”

Um dos ícones da música nacional ainda ressalta a dificuldade maior pela qual mulheres negras passam: “A mulher negra sofre mais, é mais difícil, pesa muito mais. A porta custa muito mais a abrir. Tem que entrar aos pouquinhos, não dá para meter o pé e entrar direto.”

O discurso de Elza segue em linha com músicas entoadas no palco. São os casos de “A Carne”, com versos que dizem “A carne mais barata do mercado/É a carne negra Que vai de graça pro presídio”, e “Dentro de Cada Um”, com os dizeres “A mulher de dentro de cada um não quer mais silêncio/A mulher de dentro de mim cansou de pretexto.”

Para a artista, é importante que as mulheres não se calem, que denunciem agressões e injustiças. “Pedimos às mulheres que não se calem, denunciem. Já tivemos essa vitória com a homofobia que agora é crime”, afirma ela referindo-se ao julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que enquadrou a homofobia e a transfobia na lei dos crimes de racismo até que o Congresso Nacional aprove uma legislação sobre o tema.

O show com o Ilú Obá de Min contou com forte percussão, coreografias e bom jogo de luzes que ajudava a ressaltar as cores do figurino inspirado nas raízes africanas.

Além de preparar um novo trabalho, que deve ser lançado no Rock in Rio, Elza conta que segue para Portugal em julho para show e divulgar sua biografia escrita pelo colunista da Folha Zeca Camargo.

No festival carioca, a cantora sobe ao palco Sunset em 29 de setembro e recebe As Bahias e a Cozinha Mineira, Kell Smith e Jéssica Ellen.

O tradicional evento em Altinópolis (a 343 km de São Paulo) chegou à 29ª edição e traz na programação nomes como Ney Matogrosso, Chico César, Planet Hemp, Djonga e Xênia França.

O festival, que começou nesta quinta (20), tem shows até domingo (23). Os ingressos estão disponíveis no site oficial com preços que variam de R$ 40 a R$ 430.

Forró da Lua Cheia 2019 (principais atrações):

Quinta (20 de junho)
Camisa de Vênus convida Vivi Seixas (Tributo a Raul Seixas)
Ilú Oba de Min convida Elza Soares
Carne Doce
Braza
Pequena Morte

Sexta (21 de junho)
Planet Hemp
Cao Laru
Ponto de Equilibrio
Samuca e a Selva
Monkey JAyahm
Tigre Dente de Sabre

Sábado (22 de junho)
Ney Matogrosso
Djonga
Circuladô de Fulo
Xênia França
Cuatro Pesos de Propina
Ekena

Domingo (23 de junho)
Chico César
Perê Piano
Folker’s
João Suplicy & Big Band na Gaveta

Festival Forró da Lua Cheia 2019:

Onde: Hotel Fazenda Vale das Grutas (Antinópolis – SP)
Quando: 20 a 23 de junho
Ingressos: R$ 40 a R$ 430
Mais informação: festivalforrodaluacheia.com.br

Da FSP