Odebrecht escondeu propinas das autoridades, diz consórcio de jornalistas

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Foto: Marcelo D, Sants | Folhapress

O esquema de corrupção feito pela Odebrecht na América Latina seria ainda maior do que a empreiteira brasileira revelou às autoridades, segundo reportagem do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) publicada nesta quarta-feira (26).

As informações, que teriam sido vazadas de um setor da Odebrecht criado para administrar as propinas pagas pela empresa, foram obtidas pelo site de notícias equatoriano La Posta e publicadas no Brasil pela revista Época e pelo site Poder 360 –todos parceiros do ICIJ.

O consórcio disse ter tido acesso a cerca de 13 mil documentos que faziam parte do Drousys, a plataforma secreta de comunicação da empresa e que era usada pelo Departamento de Operações Estruturadas —a divisão responsável pelo pagamento de propinas.

Em dezembro de 2016, a Odebrecht admitiu participar de um grande esquema de corrupção que o Departamento de Justiça dos EUA chamou de “o maior caso de suborno estrangeiro da história”.

Ao todo, a Odebrecht pagou mais de US$ 788 milhões em propinas entre 2001 e 2016, resultando em US$ 3,3 bilhões em benefícios ilícitos, de acordo com o Departamento de Justiça.

De acordo com a reportagem, porém, o esquema seria ainda maior e incluiria pagamentos a políticos da região envolvendo a realização de grandes obras que não constam dos processos criminais em andamento.

Entre os novos casos revelados pelo ICIJ estão os supostos repasses de verba a mais de uma dúzia de projetos de infraestrutura em países da região, incluindo mais de US$ 18 milhões ligados ao sistema de metrô na Cidade do Panamá e mais de US$ 34 milhões relativos à Linha 5 do metrô de Caracas.

Há ainda o pagamento de mais de US$ 39 milhões em propina em conexão com a construção da usina de energia elétrica Punta Catalina, na República Dominicana. Outras duas investigações anteriores do caso não apontaram irregularidades e não mencionam tais repasses

A reportagem também dá detalhes de pagamentos somando mais de US$ 3 milhões relativos a um gasoduto peruano. Entre os indicados para receber o dinheiro estaria uma empresa de um político local que recentemente foi acusado de planejar o assassinato de um rival.

O texto cita ainda uma série de emails relativos a pagamentos que um banco de propriedade de operários da Odebrecht teria feito a empresas fantasma ligadas à construção de uma rede de metrô de US$ 2 bilhões em Quito, capital do Equador. Os documentos não dizem quem recebeu o dinheiro;

Os arquivos vazados também revelam o papel que as offshores teriam desempenhado na divisão de propinas da Odebrecht.

Embora os beneficiários do suborno estivessem quase todos na América Latina, os pagamentos teriam passado por empresas de fachada e contas bancárias de paraísos fiscais ao redor do mundo, incluindo bancos de Estados Unidos, China, Suíça, Holanda, Emirados Árabes Unidos, Panamá e Antigua

O grupo brasileiro afirmou ao ICIJ estar comprometido em cooperar com as autoridades que investigam os crimes associados à empresa. “A Odebrecht continuará empenhada em um processo de colaboração irrestrita com as autoridades competentes”, afirmou a empresa.

Fundado em 1944, o grupo baiano —que chegou a faturar R$ 132 bilhões e contar com 193 mil funcionários— enfrenta dificuldades desde que os escândalos de corrupção foram revelados pela Lava Jato. Em 17 de junho deste ano, a Odebrecht pediu recuperação judicial. O grupo tem dívidas que chegam a R$ 98,5 bilhões.

As investigações dos casos de corrupção da Odebrecht estão em andamento em vários países, incluindo no Brasil, onde atingiu dezenas de políticos.

No Peru, três ex-presidentes são investigados por supostamente terem participado do esquema de corrupção. Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os Estados Unidos e enfrenta um pedido de extradição; Ollanta Humala (2011-2016), que ficou preso por nove meses com sua esposa Nadine; e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março de 2018.

O ex-presidente Alan García (1985-1990, 2006-2011) se suicidou em abril deste ano por ser acusado de receber propina da Odebrecht.

As propinas pagas pela empreiteira à Argentina totalizam US$ 35 milhões (R$ 120 milhões), e os repasses foram feitos entre 2007 e 2014. O principal investigado é Julio De Vido, ex-ministro da Infraestrutura e do Planejamento sob os governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015).

Na Colômbia, há 28 políticos e empresários citados nas delações brasileiras e que estão sendo investigados. Alguns já receberam acusações formais e esperam julgamento. Entre os acusados de receber caixa 2, estão, além do ex-presidente e prêmio Nobel Juan Manuel Santos, seu rival na eleição de 2014, o uribista Óscar Iván Zuluaga.

Da FSP