Prefeitura de Jerusalém desconhece homenagem que Crivella diz ter recebido
O currículo de Marcelo Crivella aponta que o prefeito do Rio recebeu, em 1999, “a chave da cidade de Jerusalém (Israel)”, mas nem o governo israelense nem a prefeitura da cidade têm registros de que a homenagem tenha sido concedida.
A informação aparece no site pessoal de Crivella. A Folha entrou em contato nesta semana com funcionários do país, das administrações federal e municipal, para confirmar o tributo, mas as duas instâncias afirmaram não ter encontrado evidências de que ele tenha ocorrido.
A assessoria do prefeito foi contatada cinco vezes, por email e telefone, nos últimos oito dias, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.
A concessão de uma chave, comum principalmente na América do Norte, é uma forma de homenagem dos municípios a cidadãos ilustres. Segundo o site da prefeitura de Nova York, a prática remonta aos tempos medievais, quando a entrada na cidade “era complicada por várias restrições legais, assim como por vários portões trancados”. No Brasil, uma homenagem similar é a de cidadão honorário.
Esta não é a primeira informação errada do currículo de Crivella. Em 2016, a Agência Lupa revelou que ele não tinha feito mestrado na Universidade de Pretória, na África do Sul, como também constava em seu site. Na época, ele admitiu o erro e disse que havia apenas revalidado na universidade sul-africana seu diploma de graduação em engenharia obtido no Brasil.
Em maio, o currículo do governador do Rio, Wilson Witzel, também foi contestado. O documento apontava que ele teria feito parte de seu doutorado na Universidade de Harvard, o que nunca aconteceu.
Algumas denominações evangélicas, como a Igreja Universal do Reino de Deus, onde Crivella foi bispo, têm uma ligação próxima com Israel. O motivo é em parte religioso: segundo a interpretação que esses grupos fazem da Bíblia, os judeus são os herdeiros legítimos do território onde fica Israel.
Os evangélicos também reconhecem Jerusalém como capital do país e pressionam o governo brasileiro a fazer o mesmo. A ONU, assim como a maioria da comunidade internacional, considera ilegítima a ocupação pelo país da parte oriental da cidade, que também é reivindicada pela Autoridade Palestina.
O próprio Crivella costuma viajar para Israel e escolheu o país como destino para descansar logo após a vitória nas eleições de 2016. Na ocasião, se encontrou com o prefeito de Jerusalém, Nir Bakat.
Quando visitou o Brasil em dezembro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também saudou os evangélicos e disse que os israelenses não têm “no mundo amigos melhores”. “E a comunidade evangélica não tem amigo melhor do que o Estado de Israel. Vocês são nossos irmãos e irmãs e nós protegemos os direitos dos cristãos”, disse.
Da FSP