Vaza jato e a hora das provas

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Por Eduardo Guimarães

Em sua oitiva no Senado, o ex-juiz Sérgio Moro adotou métodos de media training mais do que manjados – meia dúzia de mantras elaborados para impedir aprofundamento na investigação das dúvidas que ele foi lá com a obrigação de esclarecer.

Acabou beneficiado pela maioria governista naquela Casa e pela guinada da Globo, que vinha atacando duramente o governo Bolsonaro, mas que se ajoelhou para alguém que obviamente tem cartas na manga contra a emissora devido ao fato de que ambos atuaram juntos com a finalidade de encarcerar Lula e de esmagar o PT.

Moro adotou a estratégia de dizer que as denúncias de Glenn Greenwald são, ao mesmo tempo, falsas e sem gravidade (?!).

A tática de Moro é ridiculamente frágil; se ele estivesse diante de um juiz ou promotor público sendo interrogado, seria considerado extremamente suspeito.

Para que se possa entender como é frágil argumentação de Moro, basta refletir sobre por que alguém inventaria as frases dele nas conversas com Dallagnol e não se aproveitaria para inventar declarações bem mais graves e criminosas.

Não que aquilo que está sendo revelado não seja extremamente grave, mas se Moro acha, ao mesmo tempo, que as frases são falsas e que tampouco mostram crime algum, está se contradizendo. Ninguém criaria frases que não comprometem se quisesse comprometer alguém com elas…

Os telefones móveis dos envolvidos nesse escândalo podem conter provas, mas é evidente que juízes e promotores saberiam muito bem como entregar aparelhos que não contivessem nada comprometedor por, simplesmente, não serem os aparelhos certos.

Não se imagina, no entanto, que alguém como Glenn Greenwald divulgaria tudo que está divulgando a conta-gotas se não tivesse provas claras de que os diálogos em tela são reais.

A estratégia do editor do Intercept Brasil parece ser a de dar corda para Moro, Dallagnol e companhia se enforcarem.

A dosimetria de Glenn tem uma lógica correta, porém a adesão da Globo e da maioria parlamentar do Senado ao ex-juiz requer uma mudança de estratégia.

Como há um poderoso lobby junto ao Judiciário para impedir investigações sobre o caso Moro-Dallagnol, urge que provas sólidas – ou mesmo indícios – da veracidade dos diálogos entre o juiz e Ministério Público sejam apresentadas à sociedade.

Os celulares de Dallagnol e de outros membros do Ministério Público precisam ser confiscados. Porém, autoridades que poderiam determinar essa medida parecem amedrontadas pela Globo e pelas hordas bolso-moronianas.

Então a bola está com Greenwald.

Supõe-se que, para abrir essas provas, Greenwald teria que entregar as autoridades todo o material que tem e que não acabou de revisar. Porém, talvez seja possível acelerar a divulgação e entregar logo as provas para que Moro e companhia sejam desmascarados de uma vez

O tempo e a conjuntura, que ainda são favoráveis à denúncia que está sendo feita, podem deixar de ser se o seu timing para divulgação for perdido. Então, que se acelere a divulgação do material. O bonde da história ainda está parado na estação.