Bolsonaristas negam o aquecimento global para não adotar medidas ambientais

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Leia a coluna de Flávia Boggio, roteirista de séries de ficção e do núcleo de humor da Globo, escreveu para programas como o ‘Lady Night’.

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Concordo, logo existo

Com a chegada do frio, o vereador Carlos Bolsonaro questionou, em sua conta no Twitter, o aquecimento global.

Em tom de ironia, perguntou: “Quando está quente a culpa é sempre do possível aquecimento global e quando está frio fora do normal como é que se chama?”.

Mesmo que a massa polar tenha congelado os neurônios de Carlucho, esse tipo de questionamento é cada vez mais frequente.

Conhecido como “viés de confirmação”, trata-se do ato de usar uma pesquisa seletiva ou experiências pessoais para confirmar o que se quer.

Por exemplo, uma pessoa detesta coentro e deseja bani-lo da culinária. Com três pesquisas na internet, ela “confirma” que a erva, em excesso, sobrecarrega os rins (como qualquer verdura, mas ignora esse fato). Aí é só espalhar que leva à falência renal das crianças para formar um exército anticoentro.

Exemplo pessoal: eu gostaria que meu cachorro dormisse na cama, embora meu marido discorde.

Com uma simples “googlada”, encontro uma pesquisa feita pela Clínica Mayo (com 40 entrevistados, mas quem sem importa?) comprovando que as pessoas dormem melhor com animais domésticos na cama.

Quase convenci meu marido, até que nosso cão comeu uma fralda suja na rua e desisti da ideia.

Mais um: abriu uma academia de crossfit ao lado de casa e quero acabar com a modalidade. Sem embasamento algum, confirmo que a onda do crossfit começou por volta de 2014, ano do início da crise econômica.

Então a decadência do país é culpa dos “crossfiteiros”. Aliás, “cross”, em inglês, é cruz, que, invertida, é símbolo do anticristo aguardado pelos Illuminatis, que mandam no Brasil de fato.

Esse mesmo raciocínio é regra no atual governo. Assim como uma mãe que não vacina o filho, Bolsonaro e sua turma negam o aquecimento global para não adotar medidas ambientais. Usam experiências pessoais para defender o trabalho infantil. Tem como conselheiro, no lugar de especialistas, um astrólogo.

E afirmam que o desmatamento na Amazônia é “relativo a zero”, mesmo que dados oficiais apontem, no
último ano, as maiores taxas de destruição da década. As consequências dessas “confirmações” serão catastróficas.

Da FSP